13 de outubro de 2017

pra você, que nunca me transbordou em palavras.

ela me pegava pela cintura e segurava forte, escorregava a mão rapidinho, achava o buraco e no meio do trânsito de são paulo, entre as luzes dos faróis dos outros carros, o sinal vermelho e a lua cheia amarela lá em cima, eu gemia. cada vez mais molhada. cada vez mais fora desse mundo, com a cabeça lá longe, os teus dedos dentro de mim e eu segurando o teu braço e pedindo mais. passa uma moto, duas, escorre um pingo de suor no rosto, aumenta o som do rádio, buzinas. os carros passam. a gente fica. ali. na boca do farol: eu, você e a noite sem fim. 

vontade de parar no tempo. vontade da nossa história ter ficado lá. vontade de te ter mulher ao meu lado, e só. me comendo. me fazendo ficar sem ar.

a gente fala tanto as vezes né? as vezes a gente não se cala. as vezes não tem assunto. as vezes falta silêncio. você me engoliu e eu nunca te transbordei em palavras. você me fez sentir plena e completa, me sentir amada, desejada, gostosa. você fez são paulo parecer pequena, fez a estrada ser mais curta e transformou o meu mundo tão só em uma festa. eu não sei o que aconteceu com nós. eu não sei o que aconteceu comigo. as lágrimas escorrem, os ponteiros do relógio giram sem pressa e eu escrevo essas palavras enquanto o pudim me olha confuso. eu não sei de nada. eu só sei que o meu mundo precisou ser só meu de novo. eu não quero me perder de mim. eu não quero ser engolida. eu quero a vida leve, a voz baixa, as palavras suaves. eu quero o silêncio.

a mão escorrega no rosto e me pega forte. forte. forte. desce pra perna, coxas. volta. sobe. e você me olha como se esperando alguma coisa. como se eu precisasse me explicar. como se eu tivesse acabado com tudo e não cansasse de acabar mais e mais. não é fácil. eu não sei o que falar. me faltam palavras e ar... ar, ar, ar. talvez me falte sensibilidade. ou talvez eu seja sensível de mais. talvez a gente precise entender que a gente se resume a isso: essa eterna tentativa de criar algo que não existe. talvez a gente não exista e sim exista a vontade de fazer isso dar certo, mas só a vontade não basta. não está bastando, né? não bastou.

eu queria te dizer palavras bonitas e te confortar nesse momento. queria te dizer que tudo vai passar, que é tudo culpa minha mesmo e que eu sou uma louca que baguncei tudo aí dentro. mas a gente sabe que não é verdade. a gente sabe que tanto eu quanto tu somos responsáveis por tudo isso. somos, não somos? 

eu te desejo uma vida linda. plena. leve. que caminhar seja cada vez mais fácil e que tu possa perdoar todos os que passaram e te sacudiram um pouco. que tu ame e seja amada, muito! que tu escute. que tu sinta. que tu se deixa levar pelo outro de vez em quando também. que tu perca o controle, bastante, até entender que a gente não tem controle de nada e nem de ninguém. espero que tu lembre de mim com carinho e que a gente possa tomar uma cerveja e rir da vida de vez em quando. que tu veja o mar. que tu coma bem. aliás, obrigada por ter me "alimentado" tão bem esse tempo. 

hoje a geladeira tá vazia e eu não tenho sentido muita vontade de cozinhar. hoje é sexta e eu sinto o vento do ventilador batendo nas minhas costas enquanto o pudim brinca com a caneta vermelha em cima da cama. hoje eu não sei o que vai ser do amanhã. não sei o que eu vou fazer no final do ano e nem se a minha vó vai estar viva na semana que vem. eu não sei se ano que vem eu vou estar nesse apartamento, não sei se vou conseguir emagrecer e nem sei se eu vou ver o mar tão cedo. hoje eu escolhi um monte de incertezas e tu com todas as tuas certezas e planos não coube aqui dentro. desculpa.

e obrigada. 

por tudo.

te quero muito bem, sempre. te guardo com carinho. aqui dentro.

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