26 de fevereiro de 2019

registro

aproveitou o silêncio da sala praticamente vazia e saiu determinada. acabou, enfim, ufa. viu o céu azul e o sol lá em cima ainda, brilhando amarelo, e respirou aliviada. ai, como é bom estar do lado de fora de vez em quando. caminhou ladeira a cima. ninguém fala nesse lugar. parecia que a cabeça ia explodir e lá dentro alguém gritava, alguém que nem ela, com a mesma voz, as mesmas palavras. é, definitivamente algo precisa mudar. ascendeu um baseado. nessas horas fica difícil entender as pessoas que não fumam, sinceramente. como elas fazem? como faz pra parar de pensar? viu o dia indo. o sol foi ficando suave. era bom caminhar sem parar. passou pelo ponto de ônibus, resolveu seguir caminhando mais um pouco. fim de tarde, lá se foi amarelo alaranjado ele entre os prédios da cidade cinza colorida em pleno verão, trinta e tantos, todos os dias, e o som eterno do ventilador e das fotos na parede balançando. ela começou o ano meio sem saber de muita coisa e ao mesmo tempo querendo um tanto tudo que assim, bem rápido, muito aconteceu em pouco tempo. a vida foi tomando um rumo, dentre todas as possibilidades, ela escolheu. ou aconteceu. nem sempre a gente escolhe, as vezes a vida vai levando pra um lado e quando a gente vê: foi. eu nunca fui mulher de ser levada. eu nunca fui mulher de uma pessoa só por muito tempo. eu sempre fui dona de mim e meio confusa nos quereres. eu sempre quis mais. eu sempre quis o que eu não tenho. eu tenho uma conjunção astrológica de planetas um pouco complicada. é carência curiosidade e liberdade de mais, tudo muito, tudo explode. escorre o sangue entre as pernas assim de repente um pouco antes do esperado, escorre a lágrima salgada em plena fila do embarque do avião. eu sou a pessoa que chora em qualquer lugar e que se deixa ver sem medo. não que eu queira, não que eu faça questão que vejam, simplesmente escorre, os olhos se enchem de lágrimas e quando eu vejo lá estou eu: transparente, transbordando, me mostrando frágil pra todos esses fortes que me olham.




eu sou menina velha, sensível de mais as vezes.

8 de novembro de 2018

dos silêncios cheios de palavras

isso é um padrão?


ela tem muitas palavras em silêncio e pouco tempo livre pra pensar. ela era pequena, foi crescendo, explodiu, virou flor. não. não era isso. peraí. vontade de transar.


cansaço misturado com tesão, nada a ver. que isso? que passa?

onde foi que ela se perdeu dessa vez?

tá tudo certo e também não tá, tá tudo errado, virado, quadrado, vazio, estupefato, pros lados do horror, absurdo, do medo, de tudo, tu acabou com o meu coração, de novo o medo de nada acontecer em vão - que vá! e voa, pra longe, te quero do lado de lá. saudades, porra. cadê você?

não.

as palavras tem saído difícil, sem nexo, sem saber ao certo o que querem. eu me sinto mulher forte, mulher destruída, vencida, tentando aos poucos se reerguer e juntar os cacos. 

parece dramático. soa um pouco exagerado.

e, é.

e sendo se torna: de fato.

não, eu sei que nada disso faz sentido. talvez demore pra fazer um dia, e talvez nunca faça.

aceito o momento.

te mando um beijo de tchau.

te deixo ir.

me deixa voar...





14 de setembro de 2018

as palavras que eu nunca te disse

eu sou a mulher que chora em silêncio no banco do ônibus. a menina com medo de amar. a pequena gota de suor que escorre em baixo do seio. eu sou você ontem. eu sou eu amanhã. eu sou a mulher que você esconde. eu sou o olhar perdido de quem não sabe mais o que esperar. a voz rouca de quem cansou de falar. o peito que explode, a respiração que falta. o corpo que grita, as pernas bambas, a vontade saindo por todos os poros, cantos e buracos. não. eu não sou você. não. eu não queria te querer. mas sim, você me tem por inteira, você faz o que quiser comigo. eu sou a mulher fácil, a que diz sempre sim, a que chora escondida enquanto sorri espontaneamente. eu sou a alegria, o sol, o carnaval. eu sou a boba que acredita, que vive, que se declara, que abre o coração e se entrega assim: nua e crua. eu não sou você. eu falo, eu explodo, eu falo. eu tô aqui, você me vê? você se coloca no meu lugar? você tem ideia do que eu sinto? 

mentiras sinceras me interessam.

9 de julho de 2018

sinto o balanço

sinto o balanço do barco, como se eu ainda estivesse em alto mar. 
sinto a mulher forte brotando, lá de dentro, lá do fundo.
ouço uma gargalhada leve, um suspiro, um riso bom.
sinto os pelos arrepiando, a respiração ficando intensa.
estrala os dedos.
sente frio nos pés, sente medo.
sente a menina apaixonada olhar pro lado pra ter certeza se é com ela mesma.
vejo os olhos brilharem, vejo os olhos brilharem!
sinto a tua mão em mim, quente.
escorregando pelo meu corpo, passando por todos os cantos, descendo
pelas 
coxas
por
baixo 
da 
saia
os 
dedos
ai
os 
dedos!

é sempre difícil não me perder em pensamentos maliciosos com você.

24 de junho de 2018

viagens, rascunhos, pra não perder a palavra.

18 de junho - férias

Primeiro dia, no céu. De um lado a lua crescente, lá em baixo o oceano, quase chegando no outro continente. Ela assiste desenhos animados porque o mundo das crianças sempre lhe pareceu mais interessante. Depois, enquanto o sono não vem, o sono que talvez nem venha, ela assiste Pocahontas na esperança de entender a criança que tinha uma índia como personagem favorito e de repente faz sentido tudo o que ela se tornou. Pocahontas ia com o vento, para onde ele lhe levasse. Corajosa, queria mais, era leve. Eu vejo a Betânia de ontem aqui, a Betânia criança, hoje, ainda vive. Que bom! Que bom que ela não morreu junto com tanta coisa que a gente perde no caminho. Apaixonada, com o brilho nos olhos, o sorriso fácil e as lágrimas que escorrem sem parar e lhe molham o rosto rosado. Eu sinto, eu vivo, eu sou eu cada vez mais e como é bom poder ser o que eu quiser! Como é bom sentir, como é bom chorar, como é bom sorrir! Estou viva!

O que eu gosto no rio é que ele nunca permanece no mesmo lugar.

Não nada irá nesse mundo apagar o desenho que temos aqui.

Nada nem que a gente morra desmente o que agora chega a minha voz.

Eu não quero dormir.

Caetano canta. O tempo que as vezes passa tão rápido de repente parece não passar, parece parado, parece que voa no mesmo lugar. Eu só queria chegar. Eu só queria poder contar pro mundo tudo isso que tu me faz sentir e que é tão bonito. Tão raro. Logo eu que achei que já não poderia sentir mais, que pensei que viveria de amores impossíveis. Passageiras paixões com prazo de validade bem curto. Eu que pensei que não sentiria mais, que o sexo seria bom só se fosse forte, que a passividade me perseguiria e que nunca mais o prazer viria de outro corpo por mais maravilhoso que fosse ele. Logo eu que sempre acreditei no amor achei que dessa vez realmente havia chegado a minha vez de estar só. E tudo bem. Mas não, você apareceu como quem não quer nada e me deixou assim, toda boba, toda fácil, molhada. Me pegou pela cintura, deu um cheiro no cangote e quase que implorando pra que não acontecesse, tentando fugir e explodindo de tesão: aconteceu. Não conseguimos evitar. E, que bom. Foi bom, está sendo. Eu gosto de fechar os olhos e me perder em lembranças tuas. Te agradeço, sabia? Mesmo que tudo isso não dê em nada, mesmo que eu sofra, mesmo que a gente decida que o melhor é não viver tudo isso, por mais que eu queira e que eu ache que você quer também. Te agradeço. Por me fazer sentir, pela paixão, por me ajudar a me reencontrar. Cada vez que eu te vejo resgato um pedaço meu perdido. Obrigada. 

Todo dia o sol levanta e a gente canta o sol de todo dia. 

Toda a noite a lua amansa e a gente dança venerando a noite. 

Ah como é bom dormir...

Ah como é bom despertar...

O céu é mais aqui.

O bom é um bom lugar.

Quase 19/06. Um dia de aeroporto. Acho chique.

Gosto do que sou quando estou com você, tem gosto de fundo azul, o cheiro de água que sinto, quando te encosto, congela o ano em agosto, gasto os dias com teu gosto, da minha boca gasta de tanto amargar, saudade que desgasta a palavra. sem degustar a palavra.

24/06 - Domingo, dia de São João

A cidade cresce a cada dia, o sol e o calor aumentam, a vontade não passa e é tanto tudo que acontece que parece que viveu um ano em uma semana. Branco. Azul. A pela rosa, levemente vermelha, os cabelos cada vez mais claros, cada dia mais longos, descabelados. Eu pensei que eu vivia de mais. Eu sempre quis ser assim. Fugi pro outro lado do oceano pra descansar e parece que faço mais e mais que já fazia do lado de lá. Parece que o tempo corre e que o mundo é pequeno. E eu querendo estar em todos os lugares. E eu querendo estar. Querendo parar. Querendo esvaziar mas cada vez mais explodindo.



30 de maio de 2018

sobre o que passou

(sobre os textos esquecidos no bloco de notas - 04 de março de 2018)

no céu, entre porto alegre e são paulo, domingo, as águas de março fechando o verão.

nasce uma mulher.
brota em mim uma flor amarela.
escorre entre as pernas a água salgada do mar.
o amar é leve.
o coração transborda.
eu não tenho mais medo.
eu vivo, eu vôo, eu amo, eu sou.
os fones embalam os paços pelo céu escuro do domingo. ela volta pra casa depois de um fim de semana de colo e carinho. o peito cheio de amores, as bochechas rosas, os cabelos crescem, a pele macia, o sorriso no rosto, o olhar profundo, longe, lá longe. 
voa betânia.
viva maria. 
respira suave.
eu sou, eu posso, eu vou.

ninguém
e
nada
pode me dizer que não!
sim!

a vida pode ser leve, alegre, tranquila e mesmo assim emocionante.

viva oxum, iemanjá, exu, serena assunção, luedji luna, ascenção, nanã, anelis, céu, bárbara, iara, ricardo, cláudia, joão, gabriel, alice, patrícia, sheila, vítor, vandré, cláudia, raul, axé, axé, axé.

amém.

além.

pode sacudir avião, daqui ninguém me derruba.

17 de fevereiro de 2018

sobre betânia

Sou dessas pessoas confusas que faz um monte de coisa e ao mesmo tempo não faz nada. Dessas pessoas de muitas palavras e imagens borradas. Dessas que tentam dar sentido pros desejos e que explodem e transbordam pelas beiradas.
Sou Betânia.
Sou só.
Rodeada de um monte de gente maravilhosa. Sou grande como o prédio mais alto da cidade cinza e sou pequena como a gota que escorre no box do banheiro. Sou mulher jovem, velha guerreira, meio Pollyanna, meio anos 80, meio sem jeito pra falar as verdades da vida.
Não sei o que faço, sei o que quero, sei que vou longe. Vôo alto, observo, sinto. Aterrizo, finco os pés no chão. Vivo.