19 de junho de 2017

um ponto sem fim em um texto sem nó

era menina mansa de forte personalidade e a língua levemente presa. a cada novo dia um novo caminho entre os raios solares e o céu cinza aparecia. 

estava só. 
nesse momento. 
e estava cheia, preenchida até o gargalo, de tantas pessoas maravilhosas. 
de tanta vida colorida. 
de tantos presentes do universo. 

não escreve há um tempo e nem sabe bem como as palavras saem e como as frases fazem sentido sendo que as vezes não fazem mesmo. 

gosto de yakissoba na boca. vontade de chocolate. larica.

frio lá fora, frio aqui dentro, frio por todas as partes. 

se sente cansada, mas as palavras não param, os pensamentos voam e a casa borbulha, transpira, transborda... 

sentiu orgulho de ser gay. como nunca havia sentido antes. se pintou de azul, roxo, vermelho. colocou as pernas pra fora. a bunda pra fora. jogou purpurina no corpo inteiro e se sentiu corpo presente na maior avenida do país. 

eram cores. eram flores. era luta. era festa. 

era assistente, editora, diretora, fotografa. 
a pessoa que coloca o prego na parede, que fecha a casa, que marca a equipe, que cria o cronograma. 

era tudo. 
e era nada. 
e crescia e aparecia.

e ao mesmo tempo
queria mais tempo pra tanto muito 
que nem sabe. 

queria um dia em silêncio. um dia inteiro.
queria poder sentir de novo. 
queria viver menos. 
um pouco menos. 
só um pouquinho agora. 
por hora. 
por hoje. 

não reclama. não, jamais. 
não mudaria nada. 
nadinha. 
nadica de nada. 
entende? 

parece que não precisa fazer sentido. parece que a cabeça não tem mais espaço. 
me falta memória as vezes. 
me faltam lembranças. 
recordações recentes.
histórias que se vão como raio fulminante. 
como a vida que passa, intensa.
o tempo, que voa.
o ano que já tá está na metade.
os trinta que batem na porta.
as férias.
os três anos de são paulo 
ou
um ano de recheio 
ou
dois nesse apartamento tão pequeno.
nessa sauna.
na rua mais gay da cidade.

o texto se repete. 
já virou piada. 
mas é sério. bem sério. 
o cérebro pede socorro.
a bahia me chama.

o calor de lá me dá energia pra encarar o frio cinza daqui.
eu sou tropical.
não tenho muito cabelo.
nem cuido muito bem dos meus pés.
tomo mais de um banho por dia e o frio me deixa com a pele toda vermelha.
falo de mim.
porque?
não sei?
não sei mais de quem falar.
e nem quero, saber.


Nenhum comentário:

Postar um comentário