5 de março de 2017

turbulência

13 de fevereiro de 2017

rio > são paulo


se ela soubesse o que aconteceria amanhã talvez o hoje teria sido diferente. o vôo noturno. o céu escuro lá fora. os dias de sol. a água gelada do mar. não tem muita gente aqui dentro. homens de camisa social e calça preta. sozinhos. bancos vazios. eu com os olhos vermelhos do sal e do sol. não faz muito frio no avião e a aeromoça simpática acendeu a luz para que eu pudesse ler. a luz que eu nem havia notado que estava apagada. aqui as pessoas são alegres, tem brilho nos olhos, não perguntam o quê você faz. aqui quando faz sol os macacos pulam pelas árvores e comem banana com as mãos, as jacas caem maduras no chão e o suor que escorre no rosto é gostoso. não sei, me pareceu mais leve. apesar dos tiroteios, da baía da guanabara poluída e da pobreza. o quê a gente fez com o mundo, heim? me diga você: branca, loira, do sul, amada, bem alimentada e cheia de privilégios. você que não sabe o que é passar fome, você que sempre teve o que quis, você que vive confortável, que é respeitada, bem tratada, me diga, o quê você faz pelo mundo? o que você faz além de viver, trabalhar e se divertir? você olha pro lado. você cuida. você grita quando uma mulher é assediada, você dá comida para os que tem fome, você não desvia o olhar. você ajuda. você tem medo. você queria fazer mais, mas não sabe como. você faz pouco. você não sabe de nada. você se acha bem resolvida mas na verdade a vida anda mesquinha e pequena. na verdade você quer muito e é como se sempre faltasse algo, mas não, não é a mesma sensação de antes, não tá tudo vazio, tudo escuro, sabe? tá tudo bem cheio, o peito explodindo, coração batendo, vida fervendo na panela. mas ainda assim falta, falta algo que você não sabe e que talvez nunca saiba. não é como se você precisasse de um porquê pra tudo. na verdade nem precisa entender, nem precisa fazer sentido. se aliviar o peito já tá bom.

eu e os meus hormônios e todo esse turbilhão aqui dentro. eu, minha alma sensível e as palavras que eu guardo. eu e esse monte de vontades e incertezas. vivendo. aprendendo. 

quarenta minutos de voo. o comandante agradece e ironicamente o livro que eu leio é sobre um suicida em um avião. lá em baixo são paulo e suas luzes me esperam. 

quase três anos já. 
e eu sigo com a mesma vontade de ir. 
de voar.

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