11 de dezembro de 2016

fim de ano

sobre a saudade.

hoje o domingo amanheceu tarde, com cara de silêncio, de cansaço, de corpo que pede calma. eu me olhei no espelho e vi que os pelos cresceram, as unhas precisam ser cortadas e a casa e a quíron parecem alegres em me ter por aqui. tá chegando o fim. e com ele sempre vem o início. fazer aniversário no final do ano, no último mês, sempre tornou tudo mais intenso, mais profundo, mais cheio de coisas e vontades e desejos. eu sinto falta da terra molhada, da água azul da piscina, dos passarinhos cantando, da luz quente que entra na casa, do chão de madeira bonito, das plantas no muro, dos mosaicos, das fotos, dos tapetes. sinto falta de acordar, abrir a janela e ver a árvore de canela bem linda balançando com o vento. do céu azul. do cheiro de zona sul. sinto falta do barulho do café passando na cafeteira, da voz da mãe e do pai conversando lá em baixo, da lua latindo e fazendo festa quando se dá conta de que eu acordei. eu tenho sentido uma saudade e as vezes me pego pensando se vale a pena tudo isso. eu aqui nesse apartamento sozinha e eles lá. 

sobre são paulo.

esse ano são paulo me engoliu. senti na pele o que tanto falam dessa cidade. caminhei com a boiada dentro do metrô, entrei no fluxo mesmo sempre buscando estar no contra fluxo. andei em linha reta. me afastei dos amigos. amei, desamei, namorei, separei. fui pra praia, vi o mar, respirei salgado e fotografei menos do que eu gostaria. terminei um curso, fiz uma exposição, dei vida aos projetos e vi materializado aquilo que eu não fazia ideia no que iria virar um dia. são paulo segue ensinando, segue cansativa, segue dando vontade de ficar e de sair correndo ao mesmo tempo. a cidade grande e suas pessoas solitárias que tem medo de amar. ainda sigo tentando entender o paulista, ainda acho difícil muita coisa, ainda sei que tem muito pela frente e que quando são paulo te pega pela cintura, te joga no carnaval e te dá uma casa e trabalho é porque a história por aqui vai ser longa e muita água vai rolar ainda. e confesso que me encanta todo esse caos.

sobre dois mil de dezesseis.

dois mil e dezesseis foi intenso, não foi o melhor, nem o pior, e foi lindo. foi o ano que me fez mulher. o ano que me fez adulta. que me mostrou o lado bom e o lado ruim de tudo isso. me olhei no espelho e me dei conta do quanto eu me conheço e do quanto eu hoje enfim, por fim, finalmente, entendo as profundezas do meu olhar. a menina cresceu, raspou os cabelos, deixou os cachos caírem e o rosto limpo aparecer, sem maquiagem e um pouco mais magra. mesma altura, mesmo número de roupa, tem coisas que não mudam com o tempo. mão de bebê, pés descalços, com calos, joanete e uma coleção de sapatos furados pra arrumar. a pele segue branca, bem branca, os lábios vermelhos, pernas torneadas, fortes, de quem caminha bastante e sobe e desce muita escada. cada vez mais me entendo, me respeito e me aceito. o bom e o ruim de mim andam juntos e já não tenho mais do quê reclamar. porque apesar de tudo, apesar da saudade que rasga o peito, apesar do amor que parece tão distante e tão difícil de encontrar, apesar do trabalho sempre com uma novidade, com uma surpresa, com algo me desafiando e, apesar da geladeira vazia e a falta de vontade de ir no super mercado, o disco continua girando, as páginas do calendário vão passando, o sol e a chuva vão alternando no céu e eu vou vivendo nessa minha roda gigante cheia de emoções. 

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