22 de agosto de 2016

não dá pra querer segurar com as mãos o vento

hoje o dia amanheceu cinza e tudo pareceu não fazer mais sentido. as certezas de repente viraram dúvida e ela não sabe mais onde está, o que quer, para onde ir. não sabe mais se o rumo que a vida levou era aquele mesmo que ela queria. de repente as incertezas viraram gigantes e o cansaço e a saudade de si mesma tomaram conta do corpo, dos olhos, dos músculos, das lágrimas. a água escorre salgada e abundante, grito seco na garganta, coriza que sai do nariz. tristeza no peito. um vazio daqueles que a gente não entende, daqueles que não fazem muito sentido, daqueles que dão vontade de se encolher na cama e ficar bem pequenininha até passar. quietinha. só ela, a dor, as lágrimas, as dúvidas e mais nada. até o silêncio dominar a casa e a cama virar um buraco profundo de mais. deu vontade de ir embora. deu vontade de fugir pro verão. ou pro sul, pro colo dos de lá. não que fosse resolver alguma coisa. não resolveria nada. talvez seja só ela se dando conta de que a gente não sabe de nada mesmo. de que não dá pra querer segurar com as mãos o vento. de que talvez toda essa vontade de ser muito seja cansativa de mais e de repente quando tudo tá dando assim meio quase certo dá um medo e uma vontade de fugir pro mato. sentiu o trabalho lhe engolir. sentiu a cidade lhe dominando, o tempo passando rápido e a cabeça explodir com tanta coisa inútil que não interessa pra ninguém. talvez ela não tenha sido feita pro mundo dos homens. ou talvez ela não seja tão forte assim quanto pensava. ou talvez tenha sido o mar. as ondas batiam nas pedras e o céu cinza se confundia com o prateado da água poluída pelos barcos, pelos porcos, por nós. eu era uma menina boba e boa. boa e cheia de desconfianças que confiava demais nos outros. eu era uma mulher apaixonada pela vida que sentia uma solidão imensa nas noites de frio. eu era uma jovem cheia de amigos e convites intermináveis para festas e encontros e almoços e peças e tudo mais. eu era dessas pessoas que sentem falta de algo, que ainda não se encontraram e que quando acham ou parece que tudo está indo bem precisam derrubar o castelo de novo só pra saber que ainda tem muita estrada pela frente, que a gente não sabe é de nada e que pra ser leve e flutuar pela cidade é preciso muito desapego, muito desapego, muito desapego, muito muito muito muito, pouco medo. é preciso olhar pra trás e não mais chorar. é preciso fazer carinho no peito. é preciso se cobrar menos, se cobrar menos, se cobrar menos. tá tudo bem. tá tudo certo. e hoje eu não preciso fazer mais nada e nem entender mais nada. as coisas não precisam ter sentido. um dia eu entendo. um dia eu aprendo. amanhã será um dia melhor e se os céus me ouviram hoje: que tenha sol.

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