6 de setembro de 2016

a cidade em mim

as vezes eu acho que eu tô fugindo não sei do quê. as vezes eu acho que eu me cobro de mais. as vezes eu acho que eu me iludo, que eu não olho, que eu procuro desculpas pra me perdoar por tudo. mas tudo o quê? tá tudo certo. as vezes eu não sei porque não fui, porque não fiz, porque não falei, porque eu fico aqui parada. as vezes eu sei que é cansaço, que é a cabeça que não para, que é o cérebro tentando controlar o coração e eu não entendendo nada. as vezes o choro é seco, o grito é mudo enquanto o gato corre enlouquecido pela casa. a cama é grande e quente e a cidade em silêncio lá fora e as cobertas que sobram, as meias que caem, os pés gelados, o travesseiro duro, a falta de espuma, de penas de ganso, o ônibus que para no ponto, a moça que desce cambaleante a augusta escura, sem medo, sem rumo, sentindo o cheiro de podre do ar. menina mulher quer ver o mar. menina moça que não sabe de nada. tudo gira e as vezes parece estar tudo errado, ouço som de bombas voando do céu, pessoas correm, ouço gritos de guerra. fora temer. e pra quê tanto medo? os olhos não arderam ainda, as pernas não cansaram, o corpo não consegue ficar parado. precisa de mais. preciso de nós. preciso de mim. tempo que passa, que para, que não espera, que implora por um pouco de suspiros verdadeiros, de um início de primavera. broto. nasce. floresce. transborda. e é só segunda-feira.

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