24 de julho de 2016

sem título

é fácil sonhar quando a vida está boa. os dias passaram como vento de inverno quente, intenso, seco, ser, sexo. amor. o cabelo cresce rápido, enrola, cria forma, desenrosca, escabela. ela tinha os olhos pequenos e as mãos suadas, de bebê. pés cansados, boca seca, unhas mais compridas que o normal. silêncio na casa vazia cheia de vida. as lágrimas escorrem. a cama lhe chama. esfriou. voltou tudo e ao mesmo tempo tudo mudou. sono. vontade de dormir sem parar. ela está alegre mas no peito um espinho triste a cutuca de quando em vez. é como se a vida fosse assim: a eterna luta para se sentir segura, como se segurança significasse alguma coisa ou como se ela não soubesse muito bem que os pés estão bem firmes no chão e tudo está certo, sempre, sempre certo, sempre sonho, sempre vontade de mais, sempre indo e vindo e estando cada vez mais e mais e mais e... ela pode tudo. mas ela tem medo de não poder, de falhar. parece normal, sei lá. será que todo mundo sente assim? será que todo mundo sente? está tudo bem, está tudo bem, está tudo bem, ela repete sem parar. não quer pensar, mas as vezes o peito explode e ela sente tudo. sente a morte de alguém que nem conhece, sente a dor de quem parte, a tristeza de quem fica e a alegria do novo desconhecido brilhando no olhar alheio. sente o vazio da solidão, sente medo do amor. esse amor que destrói, que machuca, que rasga a carne, esse amor visceral que nos tira da bolha e faz o mundo girar mais devagar. não. não quer tanto dessa vez. quer respirar. quer acordar, trabalhar, ver filmes, comer. quer o peito leve e o caminhar tranquilo, os fones tocando uma música bem gostosa e o olhar longe, pra frente, sempre.

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