7 de junho de 2016

sem título, sem tempo, sem ponto

porque esse choro assim de repente quando tudo parece estar saindo como deveria, assim quase perfeito de um jeito que a gente nem acredita, assim entre despedidas e partidas, assim como quem renasce, como quem transborda, como quem entra para erguer os corações partidos ou então para encher de alegria e fazer parte de algo lindo, como assim esquizofrenia? como assim? porque? 

faz tanto frio lá fora.

e eu sempre tenho que ser tão forte.

porque o cabelo cresce e as unhas estão curtas e a pela seca e a geladeira vazia e a casa em silêncio eu não consigo mais.

eu não consigo mais ouvir as nossas músicas.

eu não consigo mais criar o inexistente e falar no plural como se nós fossemos qualquer coisa que não somos, como se eu não conseguisse me aceitar singular, como se falar de mim não fosse tão interessante como falar de nós.

porque existe o outono?

eu queria que fosse o ano inteiro primavera.

o mais louco de tudo isso é que quando eu penso e falo em "nós" simplesmente não me vem ninguém a cabeça, como se eu falasse de alguém que não existe, ou que ainda não existiu.

eu gosto do barulho das teclas das letras no teclado, é quase uma música, é quase um áudio, é s o n o r o - ainda mais apertando a barra de e s p a ç o e n t r e a s l e t r a s.

tenta!

experimenta, vai.

depois me conta como foi. depois me conta o seu dia. depois me pergunta como eu estou, me fala coisas bonitas, me convida pra tomar um vinho nesse frio e daí a gente conversa e os olhos brilham e você me fala tudo o que eu queria escutar, e eu te ouço e é como se eu já te conhecesse e você me ouve e pensa que tudo isso é muito inacreditável que eu ali na sua frente com as minhas verdades era tudo o que você queria nesse momento e daí você suspira e eu suspiro e te ofereço um baseado mas você não fuma e isso quebra um pouco o momento, eu fico constrangida em estar chapada sozinha apesar de me agradar a sensação de me chapar com você mesmo sem você estar assim "levinha" e "soltinha" como eu mas daí você não desperdiça o momento e chega perto e me pede um pega com a voz quase rouca sussurrante no meu ouvido, você me pede um pega quase como alguém pede um beijo e eu sinto todos os pelos do meu corpo se arrepiarem e a minha respiração ficar mais profunda e desvio o olhar porque você me deixa sem jeito e quando eu fico sem jeito eu fico vermelha e tento disfarçar mas nunca consigo e dai o meu coração começa a bater mais forte e eu começo a ficar nervosa porque eu sinto que tô pensando muito e sempre que eu penso muito sai merda ou então não sai nada o que eu acho muito pior, eu penso em te beijar, eu penso em tomar uma atitude mas que saco sou sempre eu que tomo a atitude sou sempre eu que beijo eu que flerto eu que me entrego e eu queria muito que com você fosse diferente e você me olha e aquele olhar me diz tudo mas ao mesmo tempo eu não entendo nada, você inclina o corpo e eu sinto o teu calor se aproximando, eu sinto o teu ar, o teu cheiro, e eu paro.

escorre uma lágrima.

as vezes eu penso que tudo o que eu crio é muito mais interessante do que a vida em si, como se a fantasia fosse quase real e viver não tivesse tanta graça.

nada disso aconteceu e você nem sequer existe pra mim ainda.

ainda, porque me resta esperança. sempre. eu sempre acredito no sonho por mais que me dar conta de tudo isso me faça chorar.

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