25 de novembro de 2015

quem sabe?

e se não der certo? e se a casa cair, o gato miar, o chão virar barro? e se as fotos estourarem? se o dinheiro acabar? se o sono durar, se a fome cessar, se a saúde deixar, se ela me chamar para um café? o que eu faço? e se o tempo parar? e se eu quiser mudar tudo, pular fora, fugir do mundo? a música parou de tocar mas a melodia ficou ecoando na sua cabeça durante três longas horas de silêncio acompanhado. cortou o dedo do meio da mão direita com a faca de novo. no mesmo lugar onde o antigo corte ainda guardava resquícios de uma pele se recompondo. dessa vez foi com o tomate, menos ardido do que com o limão mas tão vermelho e ensanguentado quanto. podia ter passado sal. não importa a dor, nunca importou. tem dias em que tem tempo de cozinhar até feijão, mas tem dias, como hoje, em que precisa aguentar a correria com café com leite e pão no estômago, e só. e muitos cigarros. ela nasceu no entardecer e todo final de ano é a mesma história, enquanto todo mundo comemora ou dá graças a deus que o ano está acabando ela se contenta com um aniversário entre mil e uma festas. sempre foi assim, sempre será. comemorações compartilhadas e a vida mostrando que é isso mesmo, a gente funciona muito melhor junto, não é mesmo? mas, e se de repente ela parasse de pensar? ou de ver? sentir? respirar? deixar de ser é quase impossível e ao mesmo tempo cada vez mais que a gente é parece que a gente não é nada mesmo, sabe? não? tudo bem. ela vai até o fôlego acabar, até o suor escorrer, até os gemidos se calarem e a respiração acalmar. ah que saudade! que saudade do tempo voando e da vontade de querer fazer tudo e de querer todos e de dormir pensando no amanhã e já querendo que seja o outro dia sem nem dar chance pro pobre do corpo descansar. respira. inspira. rola para um lado da cama, pro outro. silêncio enfim. domingo ela acordou mau humorada por culpa de algum vizinho mala que resolveu furar a casa justo no único dia de um possível silêncio no bairro. hoje não, hoje ela não ouviu nada. segunda-feira de folga nas obras, ou vai ver eles finalmente terminaram o prédio dos fundos. a gente se acostuma sabe, se acostuma com a falta de privacidade, com as cortinas fechadas, com os carros passando, com o louco de cima arrastando os móveis na madrugada. a gente se acostuma a caminhar rapidinho de noite, a atravessar a rua se vier alguém estranho, a esconder o celular no bolso mais escondido da mochila, a sair com guarda-chuva, a não usar saia se for voltar tarde sozinha ou se for pro centro ou pegar ônibus e metrô lotado ou se não estiver afim mesmo. a gente se acostuma a usar calcinha e sutiã mesmo achando um saco tudo isso apertando o nosso corpo. a gente se acostuma a chegar atrasado e também se acostuma a colocar o despertador no soneca e ficar na cama sempre 10 minutinhos além do necessário. a gente se acostuma a contar  as coisas do dia a dia e daí quando fica sozinho parece que falta alguma coisa e daí a gente escreve enlouquecido tentando entender o que é que está faltando e quando a gente se dá conta de que o que falta na verdade não são as palavras ou a troca ou o sono que não vem, a gente ri, o olho lacrimeja e fica aquela bagunça na cabeça. porque o que falta é a paz, ou a falta de expectativa, ou aceitar o tempo das coisas. ela fica sonhando acordada e esquece de dormir. ela dorme até tarde e depois não consegue dormir cedo de noite. ela fico preocupada com umas coisas bestas e ela sabe que tudo vai dar certo no final então não entende porque fica preocupada. sede. hoje choveu e como sempre, quando chove, ela molhou os pés e o cabelo nem conseguiu secar. mas foi uma mistura de chuva com suor, confessa. e até que foi bom. refrescante. não tanto quanto um picolé na beira da praia, mas pra são paulo até que deu pro gasto essa chuvinha. é engraçado se ler. outro dia descobriu uns textos super antigos daqueles que a gente escreveu na adolescência e aumentou todas as histórias e sofreu muito e fez um puta drama por nada, sabe? daqueles que a gente dá risada quando lê alguns anos depois e também sente um pouco de pena da gente mesmo naquela época, como se a gente já soubesse muito agora e fosse muito mais maduro que antigamente e também não escrevesse coisas desse tipo mais porque afinal, somos adultos né? HA HA! jura! ela acha que com o tempo a gente fica mais consciente talvez, e talvez também a gente já não transforme as coisas em algo maior do que elas são, ou não, a gente aprende tanto e ainda precisa aprender mais um tantão e tanto sabe, que sei lá, acho que com o tempo os textos podem ir ficando cada vez mais engraçados, e só. ou não, quem sabe? 

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