hoje eu me deparei com uma saudade que cortava o peito. dessas que vem meio na "hora errada", meio sem porquê, meio sem deixar agente entender exatamente o quê é. foi um cansaço. não. uma insônia, um excesso de energia e de repente o peso do mundo que me derrubou. e em plena tarde de terça-feira a cama me puxou de volta e me fez ter sonhos lindos e acordar assim meio dengosa, meio querendo descer pro Sul, meio sem entender nada. talvez seja essa coisa que sempre acontece comigo de um excesso de consciência quando tudo parece estar melhorando. talvez seja simplesmente o alívio de aceitar o agora e poder sentir falta de quem agente ama. talvez eu que tenho tentado ser tão forte enfim tenha me permitido ser frágil nessa terça quente e ensolarada. ou talvez tenha sido o sol que finalmente iluminou a cidade cinza e a culpa de estar em casa com todo esse céu azul aí fora. não sei. tanta coisa, tanto tempo. tanta dor que amenizou, coração que se aquietou e alma sendo lavada. tanto de mim por aqui e tanto eu e só eu e só eu e mais nada. eu tenho sido muito e eu sempre quero mais. eu queria as vezes me deixar em paz um pouquinho. me cobrar menos, ter menos dúvidas, me amar mais. ou talvez eu só precisasse de um colo de mãe, de uma caminhada na beira do rio, uma cerveja no centro histórico com os amigos. se sentir em casa. sim, eu me sinto em casa. e me sinto do mundo. como se estar muito tempo em um lugar não me fizesse pertencer a ele mas sim pertencer a todos os outros em que eu já estive. é louco. é como se a roda gigante girasse e a cada parada eu mudasse de lugar, só pra ver como é a vista dos outros banquinhos. mas hoje o dia passou devagar e o coração me pediu calma. hoje eu senti muito tudo e me dei conta o como eu andei fugindo de sentir tanto nesses últimos tempos. parei de escrever, parei de chorar, parei de gargalhar infinitamente. fiquei fria, sem amor, com medo. tanto tempo e tanta coisa e enfim o sol me chama e eu me vejo e me sinto e me quero de volta. chega. eu quero acreditar e viver, não quero mais rancores, nem dores, nem medos e inseguranças. eu quero a minha energia visceral e explosiva e a minha vontade de viver. eu quero ser alegre sem medo, sem medo de ser muito, sem medo de assustar. que se fodam os outros. literalmente. eu quero amar. assim, desse meu jeito meio desajeitado, meio falando de mais e pedindo desculpa sempre. eu quero amar assim como uma menina que acredita que dessa vez vai ser diferente, mesmo que não seja, eu quero acreditar, eu quero sonhar um pouco, eu quero sair desse mundo e voltar a ser criança de vez em quando. essa coisa de ser adulto é muito cansativa as vezes. parece que tudo é tão difícil e todos querem tanto. nada é suficiente, ninguém dá uma chance, ninguém olha pro lado. e eu? eu quero abrir os olhos, olhar pro lado sem medo, sorrir à toa, ficar numa boa, levar a vida mais leve. eu quero sentir a brisa e parar de anotar tudo na agenda. eu quero parar de tentar me controlar ou controlar qualquer coisa na minha volta. é impossível, e eu já tô careca de saber isso. é são paulo, a cidade do trabalho, a cidade dos prédios, a cidade do tudo acontecendo ao mesmo tempo e nesse fim de tarde melancólico e bonito eu consigo escutar os pássaros cantando e me admirar com essa luz suave que me ilumina os dedos no computador. eu não uso mais anéis e coleciono arranhões de gato. acho sexy. meu cabelos seguem crespos e voltei a ter uma lado mais curto que o outro, pra equilibrar, sabe? fez bem... os olhos estão levemente cansados, eu deveria usar mais os óculos. a pele é seca, meio escamando em algumas partes. os pés tem calos mas estão bem, cortei as unhas hoje, é incrível como o tempo passa rápido. ando com fome e meio com vontade de comer algo específico que eu ainda não sei exatamente o quê. ando com saudade do teatro. ando tentando me encontrar nessa cidade tão grande dentro desse apartamento pequeno. eu comigo, comigo e eu. nessa vida louca que eu escolhi nada simples e ao mesmo tempo tão fácil. eu complico, descomplico, faço drama e dou risada. mas hoje! ai, hoje! esse dia tão estranho que está sendo tão especial. hoje eu agradeço as lágrimas, agradeço a dúvida, agradeço a confusão sem entender nada. agradeço ao sono em plena tarde e ao coração que permitiu se abrir. obrigada. e que eu seja mais leve comigo a partir de agora. que eu queira menos e sonhe mais. me deixem ser uma menina sonhadora e livre, eu não nasci para virar peça de jogo de xadrez na máquina da cidade. eu sou pássaro que voa, que muda de direção se quiser, que não precisa de muito pra ser feliz, que se satisfaz com as coisas simples da vida. um suspiro, um olhar, um beijo, um bolo de cenoura, um trago de um baseado, um entardecer, o silêncio. o mar. o vento. eu sou brisa de verão e não chuva pesada, me dê cor e me deixe ser vida, e só, não me peça muito, eu já me exijo demais. sou uma velha criança boba que não tem maldade, que só quer o bem, que é só amor, da cabeça aos pés. me deixe voar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário