sobre os dias que passam e o peito que respira aliviado depois de libertar os fantasmas com risos e gargalhadas em espetáculos de circo. só o arte cura. só o amor salva e só o palhaço consegue fazer agente olhar lá pra dentro e se ver colorido e satisfeito, se assim quisermos. quando eu tinha uns nove, dez anos, queria fugir com o circo (quem nunca quis afinal?), queria fazer como no "bye bye brasil" e em cima de um trailer viajar mundo afora com uma trupe apresentando espetáculos pelas cidades. queria ser artista, trapezista, malabarista, cantora. não queria ser famosa, um pouquinho só talvez. queria trazer alegria pra vida das pessoas, ver os olhos brilharem, lacrimejarem e o sorriso estampar o rosto deixando todo mundo assim mais bonito, leve, alegre. eu era sonhadora, sempre fui e sempre serei, os sonhos não me tiraram ainda e tenho fé de que esses jamis vão deixar de me pertencer. aos poucos vou me realizando e aos poucos vou viajando esse mundinho tão grande e pequeno ao mesmo tempo. já vi sorrisos, já vi os olhos brilharem, já chorei em uma poltrona de teatro e já sorri na platéia, no palco, nas praças. o sol voltou pra cidade cinza e junto com ele o calor que faz carinho nos pulmões de quem sofreu com o frio e a chuva do outono que chegou de repente. é bom ser fraco as vezes, ficar doente, ver que não somos invencíveis e respeitar os avisos do corpo. é bom ser fraco e descobrir o quão forte somos. é bom olhar pra trás e não sentir mais o que nunca deveríamos ter sentido. não, ninguém tem culpa de nada. ela tinha vinte e cinco anos e enfim realizava o sonho de fugir com o circo. foi pra barcelona, suécia, joão pessoa, rio de janeiro, colômbia e tantos outros lugares que nem imaginava que existissem. se vestiu bem colorida e saltitou pelas cidades. falou uma, duas, três línguas diferentes, conheceu homens, mulheres, velhos, senhoras, gordos, magros, carecas, negros e ruivos. se transformou e se recriou e virou borboleta enfim. a casa agora respira vida e vida é o que não lhe falta. explode de vontades e se sente feliz em poder estar aqui agora, tomando um chimarrão e pensando sobre tudo isso. a tosse persiste, mas tudo bem, nada é fácil e curar uma gripe pode ser muito mais complicado do que parece. mas tudo passa não é? tudo sempre passará. e os passarinhos continuarão a cantar, as amigas continuarão casando e partindo e ela continuará voando e caindo e se descobrindo por aí.
Nenhum comentário:
Postar um comentário