tudo bem pra você desse jeito? você está enxergando daí? ah, desculpa, não vi que estava na sua frente. peraí, eu te conheço, você é a menina da festa na casa do baterista da pitty... que loucura! não, na verdade eu nem saio muito, não faço muita balada não... nem uso drogas. mas aquele dia foi diferente. não sei porquê, eu simplesmente fui sendo levada. tem que ter cuidado com a augusta. a rua e os bêbados e a noite podem te sequestrar. morar aqui do lado pra mim sempre foi um desafio. mas sim, sim, eu ando tranquila. eu ando na minha. eu ando curtindo a solidão. acho que eu quero muito dos outros, sabe? não sei, de uns tempos pra cá eu ando me sentindo muito mais exigente, mais profunda, não me contentando com pouco e sem vontade de me entregar para qualquer uma. sim, eu sou especial, acho que finalmente tô me dando conta de como eu sou incrível. parece prepotente né? desculpa. se você me conhecesse melhor entenderia tudo isso e estaria agora me aplaudindo por todas essas palavras. não, não. não te culpo. você é jovem, não sabe nada da vida. ou sabe muito. me falaram outro dia que meu espírito é velho, bem velho, e que eu absorvo muito rápido todas as experiências pelas quais eu passo. me senti aliviada. parece que enfim toda essa explosão aqui dentro fez sentido, sabe? é que eu sempre me senti um peixe fora d'água. agora com o tempo me sinto mais confortável com isso. não vejo tanto problema e de quando em vez encontro um ou outro peixe que fale a mesma língua. mas acho difícil se encaixar no mundo. parece bobo, todo mundo deve passar por isso de vez em quando. mas sei lá, esse formato de "vida" e de "mundo" simplesmente as vezes não entra na minha cabeça. não sei. é como se eu não tivesse sido feita pra isso. ou é mania de querer complicar tudo. mentira. eu gosto do simples. eu gosto do pouco. talvez seja porque eu me emocione com tão pouco, ou talvez o muito seja demais pra mim nesse momento, entende? não? tudo bem. você não precisa entender nada. você nem me conhece e vai saber se amanhã ou outro dia nós vamos nos encontrar novamente? a vida é assim, encontros e desencontros... as vezes agente caminha na mesma calçada e quando vê você atravessa a rua e eu resolvo parar no farol e ascender um cigarro. o ônibus passa, você dobra pra direita e eu sigo reto, subindo, fumando, ouvindo caetano e cantando bem alto as vezes o final das palavras. as pessoas vão me olhar, vão me empurrar, pedir fogo talvez. os carros vão buzinar, o farol vai fechar de novo e eu vou te ver entrando na outra rua e sumindo na multidão. eu vou entrar no metrô, passar a catraca e andar duas estações. o metrô vazio, no contra fluxo, e eu ali olhando tudo passando tão rápido pela janelinha. caetano canta. o trem para. eu desço e talvez amanhã eu nem lembre mais de você. você passa, assim como a menina com o cabelo raspado, assim como o homem que leva flores nas mãos, assim como o vento que bate no meu rosto e o sol que arde lá fora. você passa. eu passo. todos passam.
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