19 de novembro de 2014

sobre respirar o mar


era pequeno e magro e saltitava pela casa com o telefone na mão. trilíngue. fumava um cigarro atras do outro e fazia e refazia o café várias vezes ao dia, sempre em pequenas quantidades. duas xícaras. não gostava de praia. morava na vila isabel, berço do samba no brasil. não sabia sambar. gostava de música pop. dormia tarde, acordava cedo e escrevia muitas palavras por dia. diogo era conteúdo, inspiração, cabeça borbulhante insaciável. estudava e trabalhava muito, mas tudo o que queria era não fazer nada, era o que dizia.

tinha barba, pele branca e pelos nas costas. deitava na rede e deixava o corpo se balançar de um lado pro outro. suspirava. fazia academia um dia sim um dia não. gostava de carne, massa e sushi. bebia cerveja, fumava um baseado e gargalhava entre as ondas. gostava de praia. tinha medo do mar. joão era poeta. quer dizer, artista. se perdia em si e se entregava aos amigos e amores. era ser vivo, que sentia, explodia e queria só ser joão e só.

preto e branco, de botinhas. observava tudo e todos e seu lugar favorito era na janela. dormia no tapete, no sofá, na cama, em cima do guarda-roupa e na porta do banheiro. gostava de carinho e de insetos pela casa. era gordinho, mas já havia sido mais. era grande e com bigodes. bernardo tinha nome de galã de novela mas tudo o que queria era curtir o silêncio da sua nova cidade. gato cigano elegante e charmoso.

usava óculos quando ia ao teatro e mascava chiclete durante cinco segundos. tinha nome de cantora mas queria mesmo era ser atriz. cabelos ondulados cada hora para um lado. aparelho nos dentes e espinhas no peito. viajava em busca de tranquilidade. queria ver o mar. queria se encontrar. betânia viu o pôr do sol na praia e tomou duas cervejas. pés na areia, sol na cara. gosto salgado na boca e a sensação maravilhosa de desejo realizado. saiu com algumas roupas no corpo e sem o computador. saiu em busca de respostas, sinais, silêncio. precisava fugir da selva de pedra e ver as estrelas de novo. precisava saber que rumo tomar, pra onde ir, o que fazer. já não sabia mais o que era a sua felicidade. aos poucos foi descobrindo. se encontrou entre as montanhas verdes, as casas antigas, a areia quente e o mar que dançava na sua frente. viu as nuvens irem de uma ponta a outra do céu e o sol partir por entre o morro deixando um alaranjada azulado lindo cintilando nos seus olhos. era jovem. tinha anos de sobra de vida e um monte de pérolas na cabeça. tinha idéias e dúvidas e cada vez mais se dava conta que com o tempo só aumentaria mais e mais tudo isso. ah o tempo! voa!

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