batucada na janela. carnaval em pleno outono. calor no lugar do frio. festa na terça-feira, cinza. tudo parado, tudo fechado, a vida congelada e os ponteiros dançando... parece um ano fora do tempo, parece difícil de acreditar, a vida fora do eixo e tudo atrapalhado, caminhos se cruzando e se perdendo entre si, entre nós... e no meio desse turbilhão a água me escapa pelos dedos... nada é como deveria, ou pelo menos como a ordem natural das coisas pareceria ser... tu me engole amarga e me cospe doce no chão que tanto pisou, amou e chorou... assim como a água veio linda, suave e intensa ela se vai forte, como um rio mudando de rumo, como uma cachoeira que desaba furiosa na imensidão do nada... me escapa entre os dedos, me corta o coração e me pede pra deixá-la ir, com os olhos ardendo de amor, paixão, ou pena... não precisa sofrer tanto, já desisti de entender a vida... eu amarro os cabelos lá em cima e prometo pra mim mesma que não vou cortá-los tão cedo, quero os cachos soltos e descabelados. colo fotos na parede porque essa mania eu não vou perder nunca, memórias me fazem carinho no coração e é incrível notar como as imagens vão se modificando com o tempo... vale à pena vê-las e revê-las sempre. ascendo um incenso, ou dois, ou três, porque algumas marcas ficam e o fogo e a fumaça precisam estar sempre ao meu lado. fico em silêncio. lúcio, o cão, dorme finalmente. hoje deu vontade de ficar quieta e só. lúcio também. é tanta coisa e eu falo tanto sempre. eu não te deixo em paz. eu não te entendo. e não sei se quero te entender, não sei se consigo... acho que o buraco já foi fundo demais e ficou difícil te resgatar lá de baixo. não é de mim que tu precisa. não é de ninguém. te desejo sorte, força e esperança... e desejo que um dia tu volte a ser leve assim como eu tô buscando ser. eu fui ficando meio fria aos pouquinhos, sempre digo isso, mas dessa vez é uma frieza boa, sabe? parece que eu não sinto mais tanto as coisas... ou sinto, mas de uma forma mais lúcida... porque o turbilhão um dia cansa e não é fácil sentir o peito prestes a explodir sempre. eu quero respirar tranquila e serena, quero ir pra frente e pra trás e pros lados, dar girinhos, pulinhos e gargalhar sem pressa, sem compromisso... um riso fácil, facinho, levinho, desses que dá vontade de ficar horas ouvindo ecoar na cabeça. eu quero um dia depois do outro. quero o agora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário