hoje é vinte e três. mais um mês. menos dois. sete dias para julho. dois dias em câncer e mais vinte oito dias de pura água pela frente. haja coração, estômago, lencinhos de papel e muitos cigarros. acordou assustada com o barulho da obra invadindo a janela. a paula ia sair. o lúcio latia enlouquecido e a cidade lá fora gritava avisando-lhe que sim, ela estava aqui e sim era segunda-feira e já não era mais tempo de sonhar. relutou um pouco. fez cara feia. resmungou baixinho e deixou escorrerem algumas lágrimas. sentia falta da calmaria e da segurança de outros tempos. sentia falta da família, da gata, do silêncio da zona sul, do barulho da fonte, da coruja ronronando na barriga, do cheiro de incenso e dos bilhetinhos espalhados pela casa. sabia que o dia por si só era especial e que algo ali dentro dela iria estar borbulhando freneticamente. não sabia que seria saudade. era tão feliz, a vida era tão boa... e tão bobo isso de querer choramingar as pitangas agora e sentir a nostalgia do tempo que passa com apenas um mês. um mês. trinta dias, ou trinta e um, não sei e não quero olhar o calendário de novo. metade do ano, exatamente. esse ano maluco de pernas pro ar que não deu pra entender nada do que aconteceu até agora. parece que pegaram o mundo, os planetas e as estrelas e colocaram numa montanha russa. quem esqueceu do cinto de segurança se deu mal (ou bem, vai saber), saiu voando pelos ares e segue voando até agora, quem tentou controlar tudo e ficar bem comportadinho se deu pior ainda, perdeu o rumo, saiu de casa, se separou. foram incontáveis mortes, pessoas queridas descobrindo doenças terríveis, o corpo se revoltando, os casais se separando, o amor acabando e todo mundo carente querendo olhar pra si, pro seu intro mais profundo, e entender esse turbilhão que está sendo dois mil e quatorze. ano maldito. ano incrível. esse sim vai ficar na memória. ano de peixinhos fora da água e muito fogo explodindo pela rua. ano perdido, mal entendido, bagunçado. tudo à flor da pele. e quem não concordar que atire a primeira pedra por favor! mas que atire com convicção e segurança, pra machucar mesmo, não é um ano de meias palavras e nem de covardia. é um ano para os corajosos, os sem limite, que sofrem e riem e explodem a cada dia. haja alma! haja amor e haja alegria pra suportar tudo isso! e vamos lá, hoje é feriado, é copa do mundo, é dia de festa... depois volta a guerra.
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