4 de dezembro de 2012

sobre os homens que caem


outro dia eu vi um homem cair no chão... e não fiz nada. fui ao cinema. vi a lua cheia e depois tomei uma cerveja com alguns amigos. ele deu dois passos, se segurou no poste mais próximo e foi derretendo até o chão, devagarzinho. ficou ali beijando a calçada por alguns segundos, ofegante de calor. passou um policial com um cigarro no canto da boca. passaram duas senhoras com sacolas da feira. passou um cachorro. passei eu. passantes passivos que nada fizeram além de olhar, sentir um leve embrulho no estômago e seguir o seu caminho. depois no domingo naquele mesmo parque tudo ficou colorido em ritmo de festa frenético. e num outro dia nesse mesmo parque encontrei um lindo bolo de casamento abandonado na calçada... nesse mesmo parque onde se toma o famoso chimarrão gaúcho, onde se escuta a roda de samba todo fim de tarde, onde se pode assistir os mais belos espetáculos de rua, onde se pode fumar um baseado assim de cantinho escondidinho (ou não)... onde se caminha rápido ao anoitecer, onde há um teatro lindo cercado por grades, onde não se pode de jeito nenhum caminhar de noite... onde tantos passantes passivos e ativos riem e choram e cantam e dançam juntos... nesse mesmo parque que me surpreende com essas indas e vindas da vida e que me faz feliz em me dar conta que na minha ingênuidade pensava que nada disso era possível desse lado de cá... voltou. chegou. mas não por inteiro ainda... as pedras no caminho seguem sendo as mesmas, porém agora se encontram nos lugares mais bizarros possíveis... pensou que olhando pra frente evitaria os tombos fortes mas o que se dá conta agora é que dentro dela que estão as pedras mais nocivas e perigosas. precisou olhar pra dentro e sentir a facada no estômago para talvez cair a ficha do tempo que passou... um ano se foi e sim: tudo mudou. não me venha com esse papo de que está tudo na mesma porque não é verdade. os amigos amadureceram, sairam de casa, a família envelheceu, a bicicleta enferrujou... e ela tão cheia de vida e energia está obrigada a ficar em casa de molho, repousando. nem mesmo os amores passados são os mesmos... os olhares mudaram, a intimidade acabou... é como ter que lutar pra ter tudo aquilo de volta quando na realidade ela nem sabe se quer viver tudo de novo... ou refazer a história... é tão desgastante lutar por algo sozinha. mas o dia hoje tá cinza e talvez por isso as palavras tenham se encaminhado para um lado mais escuro e dramático... o que passa na verdade é colorido e lindo e em breve todas essas pedras sairão de dentro de mim... é só um inferno astral intenso desses que agente nem acredita que está acontecendo. é só essa mania da vida de me mostrar que voltar não é tão fácil e querer me fazer sentir um ano inteiro em duas semanas enérgicas. frenéticas. dramáticas. como uma grande peça de teatro.

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