6 de fevereiro de 2012

a mulher que diz tchau


eu levo comigo um maço vazio e amassado de republicana e umas revistas velhas que ficaram por aqui... eu levo comigo as duas últimas passagens de trem... eu levo comigo o bom e o mau e o tudo junto reunido que resta ainda dentro desse coração, dessa cabeça que pensa beaucoup e desse corpo que sente demasiado... entre os músculos das costas, do pescoço, dos ombros, das pernas, entre o sangue que pulsa e que corre, entre os olhos que ardem e as lágrimas que caem. se entregou à montreal, finalmente, cansou de viver de recordações e de passado, apesar de as vezes parecer inevitável. em dia de Iemanjá ela não via as águas se movimentarem. tudo congelado por aqui. o frio por vezes dá uma trégua, passando de muito frio para um pouquinho menos frio. faz parte, nunca havia pensado que um inverno longe de casa seria tão difícil e gelado. não vê oferendas e preses, não vê esperança. as vezes parece que as pessoas do lado de cá não creem em nada. é triste. completou três meses de vida canadense na semana passada... três meses que as vezes parecem três anos e outras, três dias... o tempo é relativo e os ponteiros variam de velocidade. o vento bate gelado no rosto fazendo os olhos lacrimejarem e os dentes doerem. onde foi parar a brisa gostosa que sempre lhe encantou? eu lembro como se fosse ontem ela me falando do vento que balança os cabelos, que refresca a alma e que dá vontade de sair voando junto com ele. cabelos congelados e um vento traiçoeiro e frio lhe perseguem. mas hoje o sol brilhou por aqui e ela acordou saltitante, com um arco-íris em sua janela. dentro da sua ilha, entre o branco e o amarelo. dispensa os óculos escuros e deixa os raios penetrarem sua pupila. céu azul, lua crescente, dia de Iemanjá. rainha das águas. pensou em escrever uma carta para uma amiga. uma amiga que está longe e logo mais se vai para mais longe ainda. sentiu vontade de compartilhar suas sensações, seus sentimentos, seus medos, alegrias e prazeres. pensou fazer um resumo de cada mês, lhe contar que no primeiro a saudade bate forte mas as novidades são tantas que essa parte passa desapercebida. o primeiro mês é o mês do encantamento. no segundo vem a crise, a vontade de voltar, o medo do que vai acontecer... mas junto com essas coisas não muito agradáveis vem também o descobrimento de si mesma, de pessoas em comum, de amores e amigos que ela sabe que vão durar para todo o sempre. e no terceiro mês tudo melhora, já se sente mais segura com as línguas e a cidade, já sabe pra que lado ir, sente saudades boas mas nenhuma vontade de voltar, guarda com carinho aqueles que merecem e faz planos para o ano que vem pela frente. pensa em trabalhar, pensa em mudar, pensa muito... escreve pouco e tira muitas fotos. as imagens à perseguem e o branco da neve junto com o amarelo do sol e o azul cintilante do céu fazem um mix muito interessante, impossível não se apaixonar e suportar o frio mais um pouco.

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