11 de janeiro de 2012

só me restam devaneios


silêncio na casa vazia. após um dia de pequenas mudanças, limpeza e ar circulando. é preciso abrir as janelas de vez em quando. que entre o frio, que entrem os ventos, que saiam os cheiros desagradáveis e que venham brisas de alegria invadindo a sala, os quartos, a cozinha e o banheiro. tomou um susto e se deparou com a fragilidade de sempre. seu corpo pediu socorro. proteína, é preciso proteína. e se o sol demora a aparecer por aqui se vê obrigada a buscar algum outro tipo de vitamina. jantou consigo mesma, à luz de velas, degustando um bom vinho branco. arroz com brócolis, bifes mal-passados e salada. igual do lado de lá. ao som de hindi zahra, para não perder a melancolia. foi preciso chegar o novo ano para que se encontrasse. descobriu que não há melhor companhia. talvez tenha sido a lua cheia, talvez tenham sido as cervejas a mais ou as conversas profundas sobre as histórias de cada canto do mundo que anda encontrando por aqui. dominicana e brasil, dois países incrivelmente parecidos. tropicais. alegres. falou de caetano, bethânia, cazuza, chico, elis regina. fez um apanhado geral e espalhou suas informações para quem quisesse ouvir. tropicália, ditadura, mutantes. era difícil não ser patriota com todas essas lembranças. mudou a cama de lugar e agora ao deitar-se enxerga pela janela os galhos secos da árvore vizinha. filipe catto invade os seus ouvidos, trazendo com ele lembranças boas de cantorias entre amigos, da brigitte, do chão frio de madeira manchado com cera de vela, com lágrimas de saudade e restos de noites intensas e profundas. tão lancinante, que ao olhar pra trás agora só me restam devaneios do que um dia eu vivi... que era fácil se perder por entre sonhos e deixar o coração sangrando até enlouquecer. dramática. precisava do drama matinal para viver. era inevitável. a cidade pulsava e aos poucos tudo ia congelando. o parque virou uma pista de patinação no gelo e ir para a escola pela manhã se tornou uma aventura, não tão perigosa quanto atravessá-lo na escuridão da noite, guiada pela lua e pelos focos de luz que se perdiam entre as árvores e o branco da neve. se for pra me ferir com o teu silêncio, respondo o teu vazio com uma paixão. o amor a persegue, pelas curvas das ruas, pelos pontos de ônibus, pelas noites frias e as taças de vinho. me deu três beijos úmidos de lágrima, selou meus olhos como um arrepio. sentia um aperto no peito por algo que não sabia o quê. tinha necessidade de parar um pouco, de estar consigo mesma e de se dar carinho. cariño. era incrível como o espanhol a perseguia. se sente incrivelmente à vontade com essa língua, podendo até sonhar e acordar falando palabras bellas sobre a vida. o francês também já estava virando rotina. que maravilha! disso não queria se despedir jamais. dessa imensidão de culturas que estava descobrindo. as velas estavam chegando ao final e a casa já não era mais só sua. mesmo assim se sentia só. ou não. se sentia bem acompanhada por ela mesma e seu emaranhado de idéias, pensamentos, devaneios. devaneios em mais uma noite fria, onde lá fora faz menos vinte e picos e os esquilos se escondem guardados nas suas toquinhas.

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