o tempo aqui é preto e branco, com todas as intensidades de cinza possíveis. pela manhã a imagem que vê é estourada, iluminada em excesso. à prés-midi o cinza domina o céu e de noite os contrastes e a escuridão invadem a cidade fria. escreve na toca, no porão, lá embaixo, de dentro da terra. na geladeira uma panela com lentilha, na pia louça suja e no fogão um bolo meio velho, meio batumado. viu a noite brilhar. montreal virou praia, o frio deu uma trégua e todos foram para a rua celebrar o novo que se aproximava. o novo chegou e com ele um turbilhão de sentimentos que por essas bandas não apareciam faz tempo... se perdeu por entre as poças e os bêbados e retornou para sua toquinha sã e salva, cansada. estava tendo um relacionamento amoroso com a sua cama. entretanto, porém, todavia, se apaixonava cada dia por uma pessoa diferente. se perdia com as palavras e desistia dos seus textos, colecionando frases confusas e sem nexo. em compensação lia compulsivamente o seu querido jodorowsky, se encantando com a fase psicodélica alucinógena do moço. que saudade! prometeu a si mesma também parar de escrever por um tempo sobre saudade. e se decepcionou ao descobrir que em francês essa bela palavra se resumia a: me manque, sinto falta. não gostou. assim como não gostou de ter de estudar sozinha e de se sentir analisada, julgada, criticada. ano novo, amigos novos, línguas novas... era tanta coisa nova que sentia necessidade de manter os velhos laços, de falar do passado, do passado recente. mesmo que o passado recente se resuma somente a dois meses e que os velhos laços por aqui se resumam a pouco tempo, porém profundo e intenso. tem chorado frequentemente. sozinha, no banheiro ou na frente dos outros, dos muitos. olhos inchados, soluço no peito e um cansaço disso tudo. je suis fatigue. cansada de ter que fazer esforço para ser compreendida resolveu fazer silêncio por algum tempo. o quanto conseguisse, o quanto fosse necessário. claro que sua tentativa frustada durou somente alguns minutos, algumas horas, alguns entardeceres... parar de falar, de ajudar, de questionar. estava se expondo demais e se esquecendo de como é sensível e de como as coisas são mais fortes pra ela. queria manter uma distância das profundezas do ser, por mais que parecesse impossível. precisava de uma folga de si mesma. se exigia demais e certas injustiças a deixavam indignada. o ódio sempre lhe fez mal e por isso tenta com todas as forças afastá-lo do seu peito. se perde entre vinhos brancos e baseados. se tranquiliza. sorri, chora, suspira. a realidade é que está triste e nessas horas a saudade vem com tudo e a vontade é voltar pro colo da mãe e receber um pouco de carinho. não que não esteja feliz e satisfeita com tudo à sua volta. (maldita mania de sempre se justificar). o assunto não se resume à estar, ou não, aproveitando e vivendo. é claro que sim! pergunta boba... o fato é que sente. sente o bom e o ruim. e nesses dias cinzas de inverno a melancolia invade a casa e para se manter alegre e são é preciso um bocado de criatividade e drama. voilá! quelle drame!
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