21 de dezembro de 2011

pelas epifanias.


pensem nas crianças mudas telepáticas. pensem nas meninas cegas inexatas... pensem nas mulheres rotas alteradas. pensem. pensem. pensem. bateu palmas, fechou os olhos e pensou: "três pedidos! e agora? tanta coisa, tanta coisa. que indecisão!" a menina de olhos brilhantes comemorava seus nove anos de vida. com bolo de chocolate com castanhas porque era o que a mãe gostava, sem balão surpresa, sem crianças também, só algumas vizinhas chatas que vieram com as mães e tomavam chá. tinha exatos três segundos para fazer os pedidos, ou então até as velas apagarem ou alguma criança metida fazer o favor de apagar elas. pensem nas feridas como rosas cálidas. vento, diga por favor, aonde se escondeu o meu amor. vento que balança as palhas do coqueiro, vento que encrespa as ondas do mar. sentia o vento a perseguindo e o fogo se indo aos poucos, junto com os seus pedidos perdidos... pedidos se indo junto com o vento pra lá longe, do lado de lá, onde é inverno agora e o sol demora a aparecer... lá onde tudo é branco e diferente. lá se foi ela voando junto em busca dos seus pedidos perdidos, atravessando a janela e vendo toda a sua família, a sua casa, os seus amigos ficarem pequenininhos, pequenininhos... até sumirem. se perdeu em um mundo diferente e voltou há uns dois ou três anos atrás. hoje vive tranquila numa casinha na serra. todo o dia vê o sol se pôr da sua varanda, um dos mais belos crepúsculos já vistos pelos seus olhos. tem dois pequenos cachorros, frida e madonna, são os seus amores. toma café forte todas as manhãs, ouve um bom disco de caetano, bethânia, gal ou gil, ou todos juntos e escreve cartas para os amigos que já se foram. se tornou uma mulher mística, esotérica, quase uma bruxa. fazia mapas astrais e poções. lia cartas, falava do futuro. sentia o frio e o quente juntos, como algo pulsando sempre no seu corpo. não cabia mais dentro de si. tinha se tornado imensa, quase um gigante. faxineira, traficante. fascinante. peculiar. me disse um dia que a solidão é uma bela companhia e que nem tudo é como a gente gostaria. mas sempre fica melhor. peguei minha mala amarela e cortei um pedaço de seu cabelo ruivo, quase laranja, loiro cintilante. queria levá-la comigo, pelo menos um pedaço. a coloquei entre os meus dedos e só soltei quando cheguei aqui, onde não sei bem onde é, mas só sei que estou. eu quero é morrer, bem velhinho assim, sozinho, ali bebendo um vinho, olhando a bunda de alguém.

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