15 de novembro de 2011

ó minha grande, ó minha pequena


de repente foi invadida por uma repentina onda de solidão. queria o silêncio das línguas cansadas. queria estar só. fisicamente e espiritualmente. queria se desprender do mundo de lá, das lembranças de lá e dos carinhos de lá. queria parar de pensar no antes e no depois. o agora estava aqui na sua frente e ela continuava a esperar que a ficha caísse um dia. a ficha não cai naturalmente, não cai sem não querermos que ela caia. aos poucos foi se dando conta disso, parou de brigar com a saudade e terminou por se acalmar e viver esse novembro frio. novembro, o mês dos escorpiões, veio como um sopro rápido... fim de ano, natal se aproximando. montreal já está cheia de luzinhas vermelhas e todos esperam ansiosos a neve que vai enfeitar a cidade inteira. confesso que tenho um pouco de medo dessa tão esperada neve. me assombra a ideia de não poder abrir as janelas. também lhe assustava o fato de não ter ninguém que a esquentasse nessas noites tão frias. era inevitável. pensava no passado e nas pessoas queridas, cada cantinho lembrava uma delas... os bares, as festas, os vinhos, serestas, as mentes infestas de podres horrores, de mil desamores... falava inglês mas queria era falar francês. comprava filmes só pelo bel prazer de escutar essa língua linda. lia, entendia e precisava respirar francês logo, o mais rápido possível. me disse que iria trocar de classe, que conversaria com a escola. assim como disse que faria muitas e muitas outras coisas que ainda não fez. tem calma, tem todo o tempo do mundo. sente falta da sua terapia, me confessou isso esses dias. já são duas semanas sem! imagina? que perigo! sente falta de muita coisa e talvez seja tudo calor do momento, talvez faça parte do primeiro corte do cordão umbilical. entretanto, porém, todavia, não sofre e não chora, as lágrimas não caem como caiam do lado de lá. no fundo acha tudo isso uma grande maravilha e gosta de poder sentir saudade e de ter tantas recordações boas guardadas dentro de si. caminha pela cidade como uma bela turista. as casas de tijolinho à vista já à seduziram, assim como as árvores amarelas que estão cada vez mais secas, assim como os músicos de rua, assim como os cachorros imensos e fofos que fazem festinha pra ela, assim como a lua que ilumina montreal e que por vezes vira três, ou vira duas, ou vira... gosta de caminhar no parque, de dia e de noite. do lado de cá tudo é tão seguro, as pessoas não roubam umas às outras, se pode caminhar lindamente no metrô com a mochila nas costas sem se preocupar... sem se preocupar. não tem preocupações, só as bobas aquelas de sempre que insistem em lhe atacar de vez em quando... mas essas não contam, aos pouquinhos vai aprendendo a dominá-las. é tudo tão diferente e tão parecido ao mesmo tempo. muda-se o cenário, se confundem as cores, os sabores, as fronteiras... caminha pelas ruas que um dia já havia visto, olha rostos conhecidos e repete consigo mesma, como uma oração: para os navegantes com desejo de vento, a memória é um ponto de partida.

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