saiu de casa para finalmente ver a cidade, não que não tivesse à visto ainda, mas na luz do dia tudo seria diferente. na frente da westmount school as crianças brincavam na rua. fazia menos um grau e uma nuvem cinza cobria a cidade. o frio parecia não incomodar os pequenos que corriam animados na frente da escola, rolavam na grama e jogavam para cima os montes de folhas amarelas que cobriam o chão. sentiu vontade de voltar a ser criança, ou então de ter filhos e por ali passear com eles... pensou no futuro, no presente e cobriu os olhos de lágrimas ao lembrar do passado. mas, como simone de beauvoir um dia lhe disse, sabia que para que o passado permanecesse vivo era preciso nutri-lo de saudades e de lágrimas. adentrou o westmount park, seu mais novo quintal, e enquanto fotografava as árvores sentiu que começavam a pingar do céu gotículas de algo parecido com chuva. aos poucos via que as gotículas eram na realidade pequenos flocos de neve. chuva branca nos seus olhos. os flocos caiam, batiam no chão e derretiam. parecia que lhe davam boas vindas e avisavam para se preparar, pois logo logo a cidade toda viraria um mar de neve branca. a nuvem cinza foi embora e deu lugar ao sol radiante e lindo... os esquilos apareceram curiosos para conhecer a nova visitante. eram criaturinhas engraçadas, a olhavam nos olhos e arriscavam uma aproximação... assustados fugiam ao se dar conta que a visitante era inofensiva de mais e não dispunha de nozes e nem nada que lhes interessasse. queria tocá-los, mas não se arriscaria a levar mais uma mordida de algum serzinho desconhecido, por hora eles não mereciam tanta intimidade. estava despreparada, a neve a pegara de surpresa e o frio aumentava. voltou para casa, colocou uma manta, uma toca e foi se aventurar novamente. não tinha pressa, não tinha ilusões. falava como que cantando, em um portuglês enrolado e inseguro. dançava no meio das folhas. respirava a cidade, o silêncio, e com surpresa se recordava, bebendo um petit cafe, que existem esperas tranquilas e que a solidão poderia ser suave. era bom estar no céu.
montreal, canadá, em cinco de novembro de dois mil e onze, na cozinha da "toca", com o chimarrão e a cachaça na mesa. aqui dentro faz calor e o ricardo mostra uma bela seleção musical que alegra a segunda noite do outro lado do oceano. cazuza, tom zé e caetano. tão longe e tão perto. a flor amarela olha a noite pela janela.
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