22 de novembro de 2011

não sei, leia na minha camisa


ela sentou do lado da vitrola e ficou a escutar o mesmo disco cinco vezes. cinco vezes do lado A e cindo do lado B. tomou mais um taça de vinho e leu e releu os postais que havia escrito na noite anterior. escreveu entre garrafas de cerveja, lembranças e lágrimas. não bebe tanto quanto parece, não se assuste. só acho importante ressaltar que neste momento estava levemente embriagada. levemente, sabe? quando dá aquela bobeirinha boa e as palavras saem com facilidade. lembrava de histórias passadas e ria saboreando a vida. saboreava, essa é a palavra. degustava cada vento, cada sol, cada canto da cidade como se fosse uma bela e deliciosa comida, bem temperada, forte. um poco de pimenta, manjericão, sal e umas ervas verdes que ela tem em casa que tornam tudo saboroso. essa nunca falta nos seus pratos. assim como o carinho com que corta a pobre cebola que sempre a faz lacrimejar. o frio também a faz lacrimejar. sempre que sai de casa pela manhã deixa rastros de lágrimas salgadas pelo chão, certamente bebidas rapidamente pelos esquilos que a seguem até a parada de ônibus. tem uma vida comum, nada de especial. espera o ônibus, vai para a escola. sim, resolveu voltar para a escola e relembrar os tempos de adolescência. tem que acordar cedo, fazer tema e prestar atenção, todas aquelas coisas que a pobrezinha pensou que nunca mais iria ter que fazer. mas desse vez é diferente, olha tudo com outros olhos. olhos de quem já passou por aquilo, olhos de uma jovem senhora experiente. é engraçado, aquela menina com olhos cansados pela manhã falando sobre a vida como se já tivesse vivido muito. engana bem, eu diria. assim como quando finge ser mãe e pergunta se os meninos estão bem quentinhos para sair na rua, ou então quando prepara uma janta para que se alimentem decentemente. esses meninos, como as mães deles deixaram eles virem pra esse frio? não entende. não entende muitas coisas, mas dá um sorriso e diz "thanks", sempre funciona. queria vê-la patinar qualquer dia desses. é como reaprender a caminhar sabe? difícil, porem revitalizante. ultimamente tem passado as noites em casa, entre taças de vinho (como havia dito antes mas sempre vale ressaltar) e conversas intermináveis. por vezes surgem silêncios imensos. necessários. apenas desfruta das músicas e se deixa viajar em pensamentos distantes. sonha muito, cada sonho maluco. por vezes sonhos assustadores. fala muito sobre amor. ama falar de amor e se derrete feito uma boba lembrando dos amores, das decepções e das noites entre velas, janelas e camas quentinhas verdes, brancas, iluminadas. não sei, leia na minha camisa. baby, baby, I love you.

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