29 de novembro de 2011

das fotos na parede


todo fim de viagem tem um lado melancólico. e domingo é sinônimo de saudade, apesar das alegrias e dos sorrisos. cidade brilhante, barulhenta e movimentada. cheia e vazia ao mesmo tempo. olhando a noite do vigésimo terceiro andar da nossa casa em manhattan. ela foi pra lá sem saber pra onde ia e sem saber o que ver, fazer e sentir. foi somente para estar e deixar a brisa bater no rosto. queria ouvir o som dos carros se misturar com o vento sacudindo as folhas das árvores e a água do rio. saiu da neve em busca de sol. sol, sombra e água fresca. encontrou no lugar do frio um turbilhão de amores, de encantamentos e sorrisos. turbilhão frenético de uma nova york de cinema. tudo ali lhe lembrava um filme. se sentiu pequena perto de tantos prédios imensos e de tantas pessoas grandes e espaçosas. carros, caminhões, ônibus, buzinas. estava na cidade grande e por vezes morria de saudades da sua pequena e educada montreal. ou então da singela província de onde vinha, das ruas de paralelepípedo, dos festivais de cinema, do odeon. a vista lá de cima era linda, mas não mais bonita do que aquela do décimo primeiro andar, da ponta da cadeia de frente pro rio. caminhou, olhou, dançou frenéticamente, viu o dia nascer de um telhado do brooklyn, falou português, inglês, espanhol, comeu delícias italianas, frango frito coreano, omelete no café da manhã, duplo quarteirão com queijo, gyro de lamb, cookies com gotas de chocolate, com uvas passas, com amendoim... bebeu café, vinho branco, corona, whisky, rolling rock, suco de maçã, coca-cola, soju, água, água, água... e nada de guaraná por um bom tempo. encontrou a yoko e o john e foi com eles fazer um piquenique no central park em uma sexta-feira ensolarada e cintilante. voltou pra casa em uma segunda-feira turbulenta, depois de uma tarde matando tempo em um bar maluco em frente à rodoviária. na porta um legítimo negão do blues, no balcão belas garçonetes morenas, mesa de sinuca, jukebox e ganhou de presente muitos shots de whisky, assim como convites simpáticos para continuar por lá. voltou e olhou a noite na estrada escura, nada de paisagens, já havia visto de mais e seus olhos estavam cansados. colou na parede todas as lembranças boas das andanças que fez por esse mundo... porto alegre, rio de janeiro, nova york... tudo em uma só parede branca em um porão frio da silenciosa montreal. se esconde atrás do capuz preto e caminha pelas ruas rumo a sua primeira aula de francês. chega atrasada, faz biquinho e se diverte tentando entender, falar, se comunicar. tudo o que quer é ser compreendida, não interessa em que língua. não se importa de fazer mímicas, caretas e desenhos, só precisa colocar para fora tudo o que sente. se deu conta esses dias que novembro já está chegando no fim e dezembro se aproxima cada vez mais rápido. o tempo passou voando pra ela. é estranho pensar que logo mais comemorará seus vinte e dois anos. é inverno por aqui e seu aniversário sempre foi sinônimo de verão, férias, piscina e praia. não se dá conta, não sabe como sentir tudo isso, só segue vivendo, um dia depois do outro, entre o cinza e o amarelo o vermelho brota como uma pétala de rosa sendo jogada em sua cabeça em uma noite mágica. o vinil toca na vitrola e a vontade é balançar a cintura de um lado pro outro, fechar os olhos e se jogar...

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