turbilhão. carregava a mala pesada nas costas, cheia, quase explodindo... o rosto vermelho do sol, os olhos caídos de cansaço. estava cansada das novidades, dos desencontros, das mudanças de planos. estava cansada de sempre perder o controle sobre tudo. nada saía como o planejado, mesmo que já estivesse careca de saber que não deveria ter planos... os planos só serviam para frustrá-la... insistia em criá-los em sua cabeça, mesmo que inconscientemente, mesmo não querendo, precisava tentar controlar alguma coisa nesse emaranhado de descontroles que era sua vida. sabia que no final tudo daria certo, apesar de as vezes só se dar conta disso dias, semanas, meses depois... depois de chorar lágrimas infantis de crianças mimadas que não tem seus desejos atendidos... ou então depois de se dar conta que tudo está incrivelmente bem, e de tão bem que está fica difícil acreditar... se assusta com o destino e com o rumo que as coisas estão levando, e com o quanto tudo se encaixa e tudo faz sentido. tem medo, medo do caminho maravilhoso que anda traçando, medo de não dar conta de tanta coisa boa... medo de não merecer tudo isso... queria matá-la, estrangulá-la, comê-la de colher em uma mesa de vidro redonda, servida em um prato fundo com um molho de tomates secos e gorgonzola. ao som de billie holiday, à luz de velas, bebendo-á em curtos goles de algum whisky nacional vagabundo. vagabundo como o seu hálito de salmão crú, de morangos mofados ou alguma outra recordação que não vale à pena recordar. queria carregar a charlotte no colo, viver aventuras em são paulo e depois se despedir em grande estilo na beira do mar em garopaba, pelada, olhando o dia nascer... tomar um chimarrão, sentir o vento no rosto... nada disso seria como foi se tivesse de fato sido e talvez também fosse tudo o que devesse ser. anda confusa, trocando palavras e sentimentos. anda querendo demais, tudo ao mesmo tempo, junto reunido. sem rumo, sem cidade, sem família e sem amor. e ao mesmo tempo com tudo isso triplicado, demais da conta, intenso e pulsante lhe cortando o ar. queria pular do décimo primeiro andar de algum arranha céu perdido. queria, queria, queria. mas agora se preocupa em tirar a pizza do forno e olhar a árvore verde da janela. não pode perder nenhum segundo, é tudo lindo maravilhoso, apesar de...
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