pegava os livros velhos e empilhava um a um com muito cuidado na estante. cabelos curtos, unhas roídas, olhos atentos e confusos. mudava a ordem, lia e relia, procurava anotações, frases, palavras. me oferecia um café e se rendia a mais um cigarro. sentada na janela olhava-a por entre as frestas de sol que entravam. chovia lá fora, mas um raio de sol insistia em iluminá-la. aquela fase repentina de amor intenso a estava incomodando. sentia as pernas moles, o peito satisfeito e uma dor lhe cortava a garganta. falavam sobre a vida, histórias do passado, vergonhas e lembranças. a cada dia uma nova descoberta... tornaram-se íntimas. as palavras saiam com facilidade. ela era pequena, com um sorriso tímido e um olhar malandro... silenciosa por vezes... profunda demais. eu falava alto, besteiras, poemas, ria, derrubava o copo, sujava a casa. não sabia reagir aos elogios e me sentia intimidada quando sem querer o olhar dela cruzava com o meu. se entendiam na cama. muito bem, obrigada. aliás, não só na cama. na sala, na cozinha, no banheiro... enfim. eram como crianças que descobrem o que é o amor e como ele pode ser leve e tranquilo. não queriam problemas. se mudaram para uma cidade distante há uns tempos atrás. outro país, outra lingua. levaram na mala os bilhetes anotados nas noites de solidão e saudade, algumas balas de goma e meias para aquecer os pés. a caixa de fósforos ficou no apartamento, junto com a taça de vinho. prometeram parar de fumar e não beber todos os dias. fumava escondida no banheiro enquanto as borboletas voavam perdidas entre a fumaça negra. olhava as fotos nas noite de frio e insônia. e escrevia textos meramente inspirados na vida, com um pouco de criatividade. lançava segredos e publicava-os como se fossem pedras preciosas. desligava o computador e tentava deixar o sono vir...
encontrei esse texto perdido por aqui, entre alguns rascunhos que em outros tempos não tive coragem de publicar. engraçado, hoje tudo parece tão mais simples.
27 de setembro de 2011
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