7 de agosto de 2011

dear brigitte


raios e trovões! a chuva que vem lá de cima bate, molha, berra... grita nessa noite de domingo quente, de pôr do sol bonito, de manhã chuvosa. tantas temperaturas em um só dia, tantos céus, tantos ventos. é como se viajasse em um barco turbulento, em mares revoltos, inquietos. ela derruba o café na mesa e bagunça a casa toda. as cobertas se transformam em uma obra de arte. vanguardista talvez, clássica jamais. algo parecido com marta minujín, uma artista plástica que ela descobriu em uma de suas andanças por buenos aires, quando pensava que essa era a cidade que lhe acolheria. pega o carro e dirige pelas ruas vermelhas da cidade ensolarada. não almoça, não pára. se despede da sua querida brigitte e agradece por todos os momentos incríveis que ela lhe proporcionou. foram dois anos de aventura, viagens, amores e amigos sentados no banco do carona, contando histórias, chorando, dando risada, cantando catto, madonnas e otto. carregou porcos em seu porta-malas, assim como objetos de cena das peças e filmes em que trabalhou. atravessava a cidade guiada pelo seu piloto automático, a sessenta, setenta, oitenta por hora. gostava mesmo era de pegar a estrada e ir. só ir, dirigindo e curtindo a vista. foi assaltada, guinchada, multada, algumas tantas e tantas vezes. enfim, tinha história pra contar. se despedia da sua companheira, assim como do conforto de seu banco macio, assim como da facilidade de poder ir e vir de onde quisesse e quando quisesse. voltaria a ser uma pedestre como em quando sua juventude descobriu as maravilhas e horrores do transporte público de porto alegre. a distância. a tranquilidade. ao mesmo tempo se despedia também da cidade, e em grande estilo. nada melhor do que se despedir sentada em um banco de ônibus podendo admirar à vista. poder caminhar entre as ruas do bom fim, cidade baixa, centro, sem se preocupar com os percursos e caminhos. poder olhar o céu, as pessoas, as ruas, o caos, com os fones de ouvido escutando bem alto algo que nem lembra mais que exista no seu mp3. lhe assustava a ideia da noite, e de ter que voltar para sua casa tão longe na ponta sul da cidade, lá onde agora é moda ir no fim de semana, lá onde se acredita ser o futuro de porto alegre. lhe consolava pensar que tinha amigos, amigos queridos que lhe ofereceriam abrigo nas noites de indecisão, nas noites em que quisesse ficar, nas noites em que voltar e fugir para o seu refúgio distante não lhe soassem tão interessante quanto continuar e seguir no ritmo frenético do furacão da cidade. estava satisfeita com o rumo das coisas, pela primeira vez sabia onde tudo isso iria terminar. terminaria indo. indo prum lugar absolutamente desconhecido por ela, mas que soava incrível aos seus olhos, ouvidos e paladar. nhac! gostava de não saber o que aconteceria, gostava de não planejar, de se deixar ir... continua a mesma, porém agora sem sua fiel escudeira ao seu lado. mas uma hora tudo chega ao fim e ela anda muito bem acompanhada ultimamente. anda se acompanhando, se respeitando e se entendendo. sobreviverá e guardará na memória os bons momentos vividos, porém nunca sem pensar nos próximos melhores que ainda virão. escutava o som da chuva e tentava deixar os olhos descansarem em mais uma das noites em que os pensamentos lhe invadiam a cabeça e lhe faziam perder-se entre lembranças e planos bons para uma semana que se inicia... e amanhã terá sol, ela pensa.

2 comentários:

  1. Que imensa e intensa recordação que colecionas num post tão sutil. Vi tudo passar, com certa linearidade e caos, mas belo e , assim: simples assim.

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  2. tu tem me feito chorar muito ultimamente.

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