eu te levaria pra jantar sushi e depois iriamos em um motel... e te daria balas de goma de sobremesa. te falaria das coisas que eu penso, das coisas que eu faço, recitaria poemas - bem brega mesmo, só pra te seduzir - te prometeria viagens, sorrisos, amizade. te beijaria com vontade, com sede, por todas as partes, de cima pra baixo e de baixo pra cima, por todos os cantos, curvas e buracos... te olharia nos olhos e te faria gozar, devagar e profundo... um gozo contido, com medo... medo de ser muito, medo de se entregar... o teu cheiro iria ficar em mim por algum tempo, e o teu gosto também... eu te colocaria no meu carro e te levaria pra casa ao som de chico, caetano, bethânia ou madonna. tomariamos um vinho e começariamos tudo de novo, até esgotar. eu te olharia dormir e admiraria o teu sono profundo, o teu silêncio, teu descanso... lágrimas secas de mulheres mudas sozinhas em um quarto mal iluminado... tu não me falaria coisas bonitas e nem me daria balas de goma de sobremesa... tu não me ligaria no dia seguinte... tu fugiria correndo de todas as coisas lindas que eu te disse... tu teria medo da felicidade, medo de não corresponder, de não estar à altura de algum sentimento mais profundo e forte... medo de que essa paixão súbita durasse apenas até a próxima semana, como um produto com prazo de validade. acordariamos felizes e satisfeitas - é incrível como uma boa noite de sexo faz bem pra alma de uma pessoa - tu colocaria a tua roupa, eu faria um café - forte, sem açucar - comeriamos juntas uma torrada deliciosa, ainda com os olhos inchados e cansados de quem acaba de despertar de um sono bom. tu iria embora, trabalhar... e eu ficaria ali, sozinha... arrumando tudo, apagando sem saber todos os vestígios que tu havia deixado. ascenderia um incenso na esperança de que o teu cheiro fosse embora junto contigo... mas na noite seguinte ao deitar a cabeça no travesseiro tudo voltaria e o teu rosto e a tua presença me perseguiriam por um bom tempo... o teu silêncio acabaria comigo e eu iria me arrepender profundamente de um dia ter te levado para comer sushi, de ter te dito coisas bonitas e de ter te colocado no meu carro, na minha vida... eu me arrependeria de ter te mostrado e meu eu profundo e querido, porque enquando tu te continhas e gozava com medo eu me entregava e gemia e berrava bem alto, como um grito que vinha de dentro das minhas entranhas... como quem conta os seus segredos mais secretos. eu iria ao fundo do poço e voltaria rapidamente, faria as unhas, pintaria o cabelo, talvez até encarasse uma nova dieta. ficaria um tempo frígida, sem querer saber de ninguém, só tendo noites casuais e evitando ao máximo conhecer novas pessoas... até que um dia eu encontraria uma pessoa maravilhosa, incrivelmente parecida contigo... comeriamos sushi e iriamos em um motel, falariamos da vida, dos planos, das mágoas. ela me entenderia, e eu acreditaria que dessa vez seria diferente... como num ciclo vicioso, como num redemoinho em baixo de uma cachoeira... eu sigo girando... girando e girando...
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