24 de janeiro de 2016

lua cheia e um ano de aprendizado

sobre as imagens que não podem ser fotografadas ou sobre os instantes perfeitos demais pra se tornarem registro. que não cabem em um pixel, ou em palavras. ou sobre a simples satisfação em estar ali naquele momento e só. a lua nasceu vermelha no mar prateado de garopaba. o sol se pondo entre as montanhas rosas e as estrelas tímidas começando a brilhar no céu. última noite de um sonho de verão. último dia de sono embalado pelo som do mar, de gosto salgado na boca, de pele queimada do sol, de família perto, barriga cheia, coração tranquilo. é como se ali ela não precisasse ser nada. como se ali ela pudesse estar e simplesmente ser e só. não pensava no amanhã. em garopaba o amanhã não era importante. o que fazer, o cachê que não entrou, o celular roubado, a falta de comunicação, os sapatos e as roupas apertadas, nada disso fazia parte dela naquele instante entre o sopro e o apagar da vela. ali onde tudo acontece e ninguém se dá conta. ali onde ela podia ser ela e estar com ela sem se preocupar em se satisfazer ou satisfazer qualquer um que fosse. ali ela podia ser menina boba e falar bobagens e correr pela praia. ali ela podia ser criança carente querendo colo de mãe. ali ela podia ser filha atenciosa, e cuidar daqueles que tanto cuidaram e que tanto fazem por ela. ali ela via o tempo passar, os pais envelhecerem e se dava conta do quão jovem se tornava a cada dia. parece que com o tempo ela finalmente havia conseguido ficar mais leve. hoje chorou. lágrimas salgadas entre as pedras do siriú. é bom chorar na praia, ninguém suspeita de nada. o sol na cara e a pele ardendo, as ondas batendo e a sensação refrescante da água gelada acariciando os pés queimados. era tão lindo e era tanto pouco e tanto tudo que parecia que o peito ia explodir. vontade de agradecer o universo, de gritar, de sorrir e de chorar. e ao mesmo tempo essa angústia por tudo aquilo que ela não sabe e que ela talvez nunca vá saber. não sei se é bem uma angústia, talvez uma dúvida que só aumenta ao mesmo tempo que alivia, sabe? a cada dia ela sabia mais, se conhecia mais, se respeitava mais, se exigia menos, se magoava menos. não. não perdeu a poesia, nem a intensidade, muito menos o tesão. não. nada disso. só deixou tudo fluir com mais naturalidade talvez. não sei. tudo está muito diferente e muito melhor do que um ano atrás. que bom.  

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