prendeu os cabelos lá no alto e deixou os cachinhos miúdos caírem pelo pescoço. era outono e queria poder sentir a brisa do frio chegando e arrepiando os pelos... como um sopro de inverno que vem pra contar segredos no canto do ouvido. queria o rosto livre, as orelhas frescas e os olhos fechados. tinha vinte e sete anos e sessenta e cinco quilos. as unhas curtas, joanetes nos pés, picadas de mosquito pelas pernas e espinhas no queixo. não se queixava, apesar de não poupar a maquiagem e a coceira compulsiva nas noites solitárias. ascendia uma vela e um incenso e uma vez que outra jogava tarôt. ouvia as mesmas músicas e se assustava sempre com o som dos coquinhos caindo no telhado da garagem. olhava a lua cheia e sofria ao pensar que no outro dia teria que acordar cedo. pensava no sol, no céu azul e na manhã saborosa de pré-feriado. tentava ao máximo não perder o otimismo, nem quando estava atrasada e quatro lotações seguidas passavam lotadas. nem ao pensar no fortunati e toda essa merda que todo mundo já sabe e não para de falar. não. nem isso a incomodaria. não permitiria. gosta de caminhar até o centro quando sai do trabalho... gosta de sentir a noite na independência. gosta de sentir a noite, os movimentos, os carros parados e as pernas apressadas. gosta de sair da frente do computador e respirar o ar... respirar. te quero nua e crua agora na minha cama. ops, sim. se perde em devaneios e se pega sorrindo no pensamento de quando em vez quase sempre... com um olhar malicioso de quem vê um filme se passar pela cabeça em um segundo... se perde...se perdeu.
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