viajante solitária em tempos de insegurança. não que o mundo fosse menos inseguro antes, talvez não dessa forma tão escancarada. de cara lavada. sem culpa de nada. ela não pode pegar caronas e nem se atirar em vagões vazios de trens em movimento. trens que viajam em trilhos tortos seguindo seu rumo para o alto e avante, cruzando fronteiras e derrapando em curvas e buracos. ela não consegue atravessar a fronteira sem ter que dar mil explicações e apresentar uma porção de documentos. documentos esses que comprovam que ela não pretende ficar por muito tempo naquele país e nem usufruir do seu precioso dinheiro... como se ela fosse querer desperdiçar o seu tempo entre as muralhas da cidade onde não se pode fazer nada nunca. a benzedrina pode dominar a sua cabeça, mas ninguém vai pensar "que bacana!" ou entender a profundidade da viagem. ninguém vai entender nada. com pupilas dilatadas e olhos brilhantes. e em pleno canadá, quase quase ali nos estados unidos (o país aquele que ela nunca quis realmente conhecer) heis que existem pessoas que não conhecem e jamais ouviram falar de um tal de kerouac... que vergonha, ou falta de cultura, ou excesso de caretice talvez. é que aqui quase todo mundo anda numa linha reta sabe? e por mais que tentem lhe enganar, no fundo no fundo o que eles e elas querem é só juntar dinheiro, pagar o aluguel e um traguinho de quando em vez, deixar as crianças brincando no quintal e assistir o último episódio da sua tele-novela favorita... e não há mal nenhum em querer isso... ela pedala a sua bicicleta e sente o verão esfriar e o sol continuar radiante e brilhante. anda satisfeita com sua rotina de três dias: café, facebook e cigarros pela manhã, depois se perde entre as linhas de on the road no ônibus a caminho do trabalho, fecha o livro, desce colocando nos ouvidos seus fones vermelhos e caminha as próximas cinco quadras em cima da montanha aos embalos de gal, céu e novos bahianos, mordendo uma maçã vermelha e fresca, como o verão de montreal. os dias passam calmamente quando se trabalha, uma rotina saudável (dentro do possível) e tranquila. até a academia ela começou a frenquentar, caminha, sua e levanta peso, se olhando no espelho e espantando-se com sua brancura gritante. já que resolvera viver somente verões a partir de agora é preciso estar em forma. nos dias sem trabalho a loucura lhe invade e a vontade é fazer tudo e mais um pouco! uma bomba ambulante prestes a explodir cheia de energia e desejos, excitante para alguns e perigosa para outros, para si mesma e para aqueles que têm medo de sentir de mais... dias intensos e apimentados a perseguem e nada como poder viver e só, por ela, por mim, por quem se foi e por quem esta lá, do lado de lá, passando frio agora.
"gosto de muitas coisas ao mesmo tempo e me confundo inteiro e fico todo enrolado correndo de uma estrela cadente para a outra até desistir. assim é a noite, e é isso que ela faz com você. eu não tinha nada a oferecer a niguém, a não ser minha própria confusão."
jack kerouac

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