4 de abril de 2012

dos gostos e sabores...


água borbulhando e cheiro de feijão pela casa. cheiro de brasil. uma xícara, e outra e outra... ervas-finas, manjericão, bacon, cebola, alho... e mais alguns tempeiros secretos que colequei aqui dentro só pra te conquistar... além de muito amor, claro. esse nunca falta, mesmo se o coração estiver cansado, ele surge não sei de onde para dar o toque especial. mais uma quarta-feira cinza em casa e a vontade de ficar quietinha sem fazer nada permanece. deve ser a lua, ou então a primavera que por aqui já se encontra... escondida em algum canto distante... as flores começam a brotar nas árvores e os esquilos passam os dias correndo pelo parque. o tempo muda e ao mesmo tempo continua exatamente igual e a sensação de inverno permanece. é como se para sentir tivesse que fazer muito esforço e as vezes permanecer no mesmo lugar parece mais fácil. dias intensos de uma solidão acompanhada. sem cama, sem quarto, sem casa. desapego total. sofás na rua, mesas nas esquinas, computadores e quadros na lata de lixo... canadenses desapegados materialmente, incrível. aos pouquinhos ela vai se tornando parte deles e as coisas do lado de cá já parecem bem normais aos seus olhos... apesar da melancolia ser a sua melhor companheira e de o passado caminhar ao seu lado sempre... ponto, nova linha. fiquei pensando se borboletas voavam em dia de chuva. fiquei pensando se o carro que passa pela janela vai ou vem ou fica. fiquei pensando se para pensar mais tranquilamente existe algum truque de mágica, se para te ter aqui pertinho é preciso pegar três aviões e viajar um dia ou se só basta fechar os olhos e bater os calcanhares três vezes bem rápido. fiquei pensando no agora e inevitavelmente pensei no passado e no futuro e nesse tempo relativo maluco que insiste em me perseguir... branco, vermelho, laranja e todas as cores possíveis nas suas comidas. quer prová-las e dá-las de colher na boca de estranhas queridas que se encontram do lado de lá. o amor está sempre tão distante, pelo menos a um oceano de diferença. mas está aqui também... no corpo cansado que dorme no sofá da sala, no vinil que toca na vitrola, no secador de cabelo que seca cabelos negros no quarto do outro lado da parede. está na música romântica que toca no computador ou então nas letras bonitas de mais uma canhota que se encontra na toca. a música acaba e os sons da casa prevalecem, o feijão borbulha e o ricardo, aquele que nunca ronca, faz sons estranhos e desfruta do seu tão merecido sono dos circenses. ele trabalha no circo sabia? malabarista nas horas vagas, serve na cozinha os mais interessantes seres e artistas. fala inglês porque cravou uma briga com o francês logo que chegou por aqui. jornalista, silencioso, inteligente, guarda para si as mais incríveis histórias e sorte daqueles que conseguem adentrar seu mundo secreto de indecisões e viajar no seu paraíso de fantasias psicodélicas... mas para cozinhar feijão há de se ter muita paciência, é como se fizesse uma poção mágica... um tempeiro de cada vez, um pouco mais de água, mexer, mexer e mexer... pimenta... mais água e mexer, mexer e mexer... borbulhar. cozinhar e viver, tão simples e tão difícil. porém com um pouquinho de força de vontade e bom gosto tudo fica delicioso no final.

2 comentários: