14 de abril de 2012

porquê hoje é sábado, amanhã é domingo e depois...



nessas manhãs quentes de primavera, com as janelas todas abertas e um vinil tocando bem alto, ela toma seu santo café forte de todo dia e sem saber as palavras certas para descrever esse momento se desperta para mais um sábado... as unhas roxas já estão desbotadas e os cabelos que antes eram loiros e depois se tornaram vermelhos agora tem uma cor indefinida entre o branco, o rouge e algo semelhante a cor de uma beterraba... daquelas não tão roxas, que ainda não estão maduras nem docinhas e apetitosas para comer. anda pensando com muita frequencia no porquê de muitas coisas e a confusão constante em sua cabeça cheia de perguntas e respostas profundas lhe faz querer dormir acompanhada e durante o dia ficar sozinha olhando o sol nascer, subir, brilhar e se pôr... ela só vai falar na hora de falar, então ela escuta. escuta o assobiar dos passarinhos e o berro das gaivotas, caminha sem rumo em busca de algo que lhe alimente, que lhe sacie essa vontade absurda de viver. entre rabiscos e desenhos de mais uma tarde que virou noite adocicada e introspectiva, sairam coisas como: pelo nada que resta do pouco que fica... das lágrimas curtas de olhos pequenos, com as pupilas grandes para ver além, para ver mais, para sentir, viver, violeta... vida. eu só queria te ouvir falar qualquer coisa. cala a boca. c'est difficile pour moi... c'est pas facil... vivre ici, nesse mundo. pourquoi très froid? porquê tão frio? tempo, tempo, tempo. é difícil ter que fazer esforço para olhar para cima, pra janela, de cabeça pra baixo tudo fica mais fácil. eu quero ir embora, eu quero dar o fora... e não quero que você venha comigo.
- silêncio.
- troca o disco.
- que disco?
- que casa? que cidade, país, estado? que língua?
- até as luzes ascenderem novamente.
- vontade de ir lá pra cima, perto do céu.
- difícil escrev... agor...
- cadê a formiga?
a formiga virou três e depois de tantas frases e pensamentos sem nexo ela se rendeu ao chimarrão e as gargalhadas. a cerveja tinha acabado e o sono não dava nenhum sinal de vida... restou escutar as velhas cantigas e soltar a voz até o que cansaço a vencesse. no quarto ao lado um silêncio e um turbilhão de pensamentos passavam dentro de um balãozinho pousado sobre a cabeça dele. pensamentos mudos, palavras difíceis de expressar qualquer coisa, silêncio na casa inteira. silêncio cortado brutamente por um berro de criança no apartamento ao lado, de criança pequena, sabe? de vida nova, de esperança. era a primeira vez que ela ouvia aquele ser minúsculo expressar algum sentimento sonoro. e era tão bom senti-lo expressando qualquer coisa que fosse. ponto, nova linha ou novo parágrafo. como o gelo demora a derreter, como a cerveja insiste em estar sempre quente e como as garrafas guardadas só aumentam e de lá nunca saem. os discos brasileiros insistem em tocar e ela não consegue abandonar a sua latinidade caliente nunca. mas depois que o fogão e a geladeira voltaram a ser brancos ela bebe uma cerveja. porquê hoje é sábado, e amanhã domingo, e depois vem a segunda e a terça...

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