6 de março de 2012

titubeando entre os agoras


sentada em um quarto escuro à luz de velas escuta um homem lindo (líquido, derretendo) de pele negra tocar e cantar suavemente músicas românticas... que saudade de sentir o cheiro do verão e de rir à toa com os velhos amigos... projetos, sonhos, filmes, clipes, contatos. ela pegava o seu celular e produzia tudo. encontros em bares, em casas, em ruas vazias com árvores verdes. trabalhos, arte, cinema, teatro... tudo junto reunido como uma sopa de letrinhas psicodélica deliciosa. give me your love. ali, aqui, lá, acolá. pourquoi no? pequenos momentos de eterno prazer, lembranças que vem e que vão. amores que ficam guardados para um dia quem sabe voltar a sentir, tocar, beijar, amassar. olhos brilhantes no agora e lágrimas que caem sem pedir permissão. intrusas salgadas como o gosto do mar que ela a tanto tempo não sabe o que é. não se esquece nunca, tem uma memória incrível e repete as histórias como se tivessem acontecido ontem, anteontem, semana passada... tão longe e tão perto. as vezes parece que está logo ali, no quarto ao lado, programando o próximo encontro, a próxima festa ou o próximo projeto. unir, reunir, agregar. queria todos juntos no frio, no calor, no colorido da cidade preta e branca, nas descobertas, nas alegrias e nas tristezas. até que a morte os separe. dramática, claro. irresistível evitar o drama. será a mesma para sempre e o tempo passa, tudo muda e tudo permanece exatamente igual. passa um mês, passam dois, três, quatro... dorme acompanhada e seu quarto agora tem o dobro do tamanho, duas janelas grandes e o banheiro ao lado. quente, frio, morninho. diz que vive o hoje e o agora mas na verdade está sempre no amanhã. rápida, difícil de alcançar. três passos para esquerda, três para a direita, dá uma voltinha e pluft! sumiu! ela é assim: vai e volta e vem e traz e não sabe muito bem aonde vai parar, só sente e segue caminhando em direção à luz neon cintilante que pisca no final do corredor.

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