21 de março de 2012

Francis, tu as tant de chose à dire...


Francis caminhava pela cidade ensolarada com seus óculos escuros e sua jaqueta de couro. passava pelas lojas coloridas e respirava o ar da primavera. resolvera sair da sua toca depois de quatro meses enclausurado. quatro meses frios e cinzas. saiu da escuridão do seu quarto escuro marcado pela saudade. nas paredes fotos do lado de lá, cartas de amigos jamais respondidas, bilhetes das noites regadas a vinhos e boas gargalhadas, anúncios e imagens do que gosta, do que gostaria de fazer, viver, sentir, amar... terminara um longo relacionamento e as marcas dela ainda se encontram no seu corpo... nas paredes da casa, no cheiro que vem da cozinha, no vento que entra pela janela... eram dois jovens românticos com feridas passadas, inseguranças e olhos no futuro. comiam sushi todos os domingos para curar a ressaca, bebiam uns bons drinks e divagavam durante horas sobre a vida, a arte, a poesia, o passado, o futuro e o presente. sobre o tempo. o tempo era um dos seus assuntos favoritos e acreditavam que este caminhava em uma rua paralela, admirando outras paisagens que não as suas. tinham medo do amor, da dor, de sentir de mais ou de menos. de sentir. mas sentiam extremamente lá no fundo um prazer imenso de estarem juntos, mesmo que de formas diferentes. discutiam, choravam e por vezes se questionavam se aquilo tudo era verdadeiro ou se não fora somente um sonho bonito... terminavam e voltavam e no meio desse redemoinho de sentimentos o tempo ia passando... Francis falava demais, ia para o trabalho sorridente com o gosto do café ainda na boca... de noite comia morangos e bebia um vinho branco enquanto se preparava para mais uma noite de sexo incrível com ela... ela era calada, observadora, tímida... o admirava com seu olhar penetrante e lhe escutava contar os causos do seu dia. riam, sorriam, gargalhavam. gozavam da alegria por todos os cantos da casa, entre as cobertas bagunçadas e as velas apagadas na sala. mas Francis nunca se sentia satisfeito... queria ir, viajar, voar, conhecer, degustar e apreciar outros cantos e paladares. ela por outro lado não o prendia, não o fazia se sentir seguro e jamais pedira para que ele ficasse. eram tardes e noites agradáveis. passaram-se alguns meses de festas intermináveis e encontros à luz de velas e ele se foi. foi para o lado de lá, onde as línguas são muitas e o frio assusta até os mais fortes. foi para respirar outros ares, ver o que iria acontecer, o que iria sentir e se encontrar ou encontrar o seu canto no mundo. passou por momentos incríveis e por horas a saudade lhe pegava de uma forma tão forte que o melhor era aceitá-la, senti-la e depois deixá-la ir... como uma gaivota que vai passear no inverno e que volta para enfeitar a cidade na primavera. junto com a primavera e as gaivotas veio a alegria e a vontade de fazer algo, de viver. ainda não sabe muito bem o quê, mas já comprou uma bicicleta e agora vê tudo de perto, de dentro. caminha tranquilo, sente o cheiro das flores e guarda no bolso esquerdo da jaqueta todas as lembranças boas que ela lhe deixou... ainda se encontram nos seus sonhos e revivem um pouco daquela linda ilusão. já o bolso direito está sempre aberto para que outras como ela possam entrar... entrar, sair, passar, amar... porque no momento ele está aberto a todas as possibilidades e sem pressa espera tudo de bom que há de vir.

Um comentário: