15 de julho de 2009

devaneios intermináveis numa noite fria e solitária II

saudade do colorido de outros tempos. quando tudo era lindo. saudade dos sorrisos diários, da simpatia. tudo era novo, tudo era surpresa. a minha casa era tão cheia de mistérios que eu podia passar dias desvendando os segredos escondidos nos cantinhos onde as lagartixas se escondiam. a minha família era perfeita, um exemplo a ser seguido. e eu era simples e feliz, não queria nada, só ficar com eles, brincando e rindo.
hoje a casa ficou pequena, os sorrisos diminuiram. alguns cachorros morreram, as brigas aumentaram. o meu irmão, meu companheiro de brigas e brincadeiras, com a cabeça baixa desvia o olhar, finge que estuda e come chocolates escondido. a minha mãe faz tapeçaria, faz álbuns de fotos no computador, resolve os problemas dos outros e esconde os problemas dela mesma, as vezes explode e aí perde toda a razão, sinto vergonha por algumas coisas que ela fala. depois lê e dorme. o meu pai chega estressado, limpa o pátio, da comida pros cachorros, arruma a cozinha, lava a louça se preciso e reclama dizendo que ele sempre tem que fazer tudo, porque ele insiste em fazer as coisas, mesmo quando não tem nada pra ser feito. ele reclama mais um pouco, chinga o meu irmão, lê e dorme.
e quando chega mais ou menos umas onze horas eu fico aqui sozinha, no silêncio. a casa fica numa paz, todos dormem e eu penso. no silêncio da noite o cheiro da infância volta e tudo parece ficar bem, o ronco do pai é um sinal de que ele está num sono profundo. apesar de eles nem se enconstarem na cama eles se amam. não se beijam, não se tocam, não falam coisas bonitas um pro outro. sinceramente, eu não sei como eles se aguentam até hoje. tenho pena, eles mereciam ser felizes. tenho saudades do colorido, vontade de voltar a ser criança.

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