10 de julho de 2013

e o tic tac passando...


os dias passaram como se fossem segundos. o relógio girava rápido e dormir era praticamente impossível. ela corria de um lado pro outro com cinco celulares em cada mão. ascendente em gêmeos, sim. porém nunca lhe fora tão cansativo ser comunicativa... era como se deixasse um pedaço seu com cada pessoa que passava... era como ter que doar-se sempre, suprindo as carências de toda aquela gente solitária... que coisa! maldita mania de ser mãe... tinha quinze anos e trinte e três filhos para cuidar... colocava todos dentro de sua mochila e caminhava pela cidade carregando o peso do mundo nas costas... era tanta coisa, tanto tudo! tanto pra fazer, tanta coisa acontecendo, e os protestos, e as mudanças, as casas, o trabalho sem fim, a saudade, a vontade de ir, a necessidade de parar, o medo de não fazer nada, a vontade de não fazer nada, a cabeça à milhão, as idéias brotando, os telefones tocando, um mar de e-mails, turbilhão... e o vento? cadê o vento? cadê o mar? o cheiro de mar? cadê o silêncio? ah! ar! precisava parar, respirar, sentir... deixar o corpo repousar na cama e pesar... libertar a mente, parar de pensar. sabe? ela era uma jovem menina que um dia enfiou na cabeça que queria ser grande, independente e bem sucedida. fez uma lista de desejos e objetivos, colou na testa para que não esquecesse nunca. vestiu o casaco, calçou os sapatos e partiu em caminhada... da zona sul à zona norte, atravessou a cidade buscando marcar um X em cada objetivo alcançado... com o tempo a lista foi mudando, riscava algumas frases e fazia setas que a levavam para outros cantos. passou por praças, desviou de obras e buracos, contornou o rio... algumas palavras foram caindo pelo caminho e nos pés uma vasta coleção de calos... é que sempre tivera os dedos garrinha, sabe? bem assim, seus dedos do pé agarravam a terra com uma vontade imensa de viver e sentir tudo aquilo. agarravam com força, por vezes tão forte que a pele não conseguia proteger o que tinha lá dentro... alguns lhe perguntavam o que faria depois da caminhada. ela não sabia o que responder, nunca fora boa com respostas... apesar de elas sempre estarem na ponta da língua. foi abandonando o peso da mochila depois de um tempo. se sentia cansada e não gostava das dores. cuidou dos filhos o melhor que pôde e aos poucos se libertava de cada um... se libertava de si e deles. se libertava dos seus medos e dos medos implantados pelas cobranças da sua consciência exigente e perfeccionista. se desnudava e aos poucos conseguia sentir o vento acariciando o rosto de novo, o gosto da água na boca, o som do mar... respirava com calma,  deixava as pernas à levarem descompassadas para onde quer que fosse... não se preocupava mais...  ou, não se preocupava mais tanto. porém, a cada noite lhe pinga uma estrela no olho, e passa... 

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