numa manhã chuvosa e cinza ela pegou as suas coisas e partiu. não partiu sem dizer nada, não partiu sem se despedir. por mais que já tivesse passado por isso algumas vezes ela não conseguiria simplesmente ir. seria uma maldade com quem fica, pensa ela. mas ela foi, com o silêncio e a solidão nas costas. na mala levou coragem, vontade, gana e esperança... esperanças que as vezes se vão e parecem nunca mais voltar, mas que voltam. graças a deus elas sempre voltam. levou também, nos bolsos - entre os chicletes e as moedas - uma mágoa pequena - porém forte - daquilo que insiste em se repetir, dos amores e desamores que vem e que vão e que incrivelmente tem uma ligação muito forte com o passado e com os temores que ficaram. ela chegou cansada no seu quarto laranja com verde. uma linda janela com vista pra uma grande árvore lhe recebeu de braços abertos. ela sorriu e pensou "é tão bom estar aqui. é tão bom estar só aqui. é tão bom estar só." ela saiu do dia cinza e entrou no céu azul ensolarado. aqui as pessoas tomam banho de sol nas praças no domingo, levam os cães para passear, brincam com as crianças, tomam sorvete. sim, exatamente como lá. igualzinho. pela noite encontrou amigas e conversou sobre signos, astrologia e relacionementos. sim, exatamente como lá. porém agora as conversas eram em espanhol. algumas coisas ela não entendia e as vezes sentia uma vontade imensa de falar tudo em português bem rápido. é como se tudo isso tivesse um significado que ela já sabe, no fundo ela sabe de tudo... só fica tentando se encontrar aos poucos, entre as ruas e árvores dos cantos por onde passa. numa incansável busca por algo/alguém que lhe complete... pois ontem ela descobriu que tem marte em escorpião e que o que predomina no seu mapa é a casa 7. sim, muitos planetas na casa 7... e por mais que ela queira e goste de estar só... no fundo, no fundo, pessoas com predominância na casa 7 precisam estar sempre apaixonadas. e ela já sabia disso.
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